Releio, depois dos anos,
‘As Caras e as Máscaras’ de Galeano.
A memória do fogo me vem,
salta pelos poros
e depois reentranha-se nas hospedarias
da imensa madrugada.
Aqui estamos,
aos teus pés, América!
Quem tocará
a índole do condor?
Romperá o tigre azul,
entre céus andinos,
por toda a cordilheira?
Qual dos teus pais, filhos da terra malsã,
te acolherá quando a zombaria
arrancar de teus braços
a tenra idade e o ouro,
depois de te condenar à sífilis e a fome,
quem nascerá com espadas nas mãos?
Vento em ti, canto de flechas,
rios do centro do mundo, irmãos da igualdade,
perdão e castigo.
Vento em ti, capitães do medo,
ataúdes e os sudários das mãos infantis,
dores em quatro ventos
e as selvas aquecidas por árvores gigantes.
Crescerá em teu ventre os mares revoltosos, o cais,
o sangue e o destino.
Em noites puras,
o sol será trazido pelo mais velho dos pássaros.
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