Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 9 de março de 2011

MULTIDÕES




                             

Quem calará a boca do mundo?

Quem, no meio dessa multidão, vai parar?

Quantas pernas não mais se cruzarão?

De que olhos sairão lágrimas
o bastante para nos lavar?

Que faca ou lâmina, que marginal
cortará as amarras de nossas mãos?

Brotem asas às minhas costas
como brotam as flores,
o trigo, a vinha.

Quero acima das cabeças voar
e me cegar, e ficar surdo,
e não mais falar.

Quero dormir
e não mais acordar.


(Itárcio Ferreira)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CANTO A UM HERÓI GUERREIRO




                                  
                                  Para José Maria Menezes Ferreira





Meu pai é de carne, osso e espírito,

mais espírito que tudo.



Sempre foi um guerreiro, sempre lutou,

sempre foi meu herói.



De mãos vazias lutou.

Lutou jovem, sofreu jovem,

jovem amou, jovem venceu.



Trazia nos pulmões o ar de Carpina,

que é muito bom.



Enfrentou monstros de trinta pernas,

vinte olhos e cem mãos.



Enfrentou sobretudo os homens,

a ganância, os generais da política,

e venceu todas as batalhas.



Que espécie de guerreiro é meu pai

que não sabe caçar?

Fazer guerra não sabe.



Será guerreiro expulso de alguma tribo

ou um ser de outro planeta?



Uma flor que virou homem

ou talvez um louco fugido de um hospício?



Um poeta?



Chamem a polícia,

os bombeiros, o oficial de justiça,

o dono da venda, o carteiro, o padre, o prefeito, o ladrão.



Que espécie de guerreiro é meu pai?

Quem o saberá?


(Itárcio Ferreira)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

PAISAGENS ANIMADAS



As pequenas casas da beira da estrada correm
com tudo que há dentro delas.

As árvores também correm,
as árvores secas, as carnaubeiras.

Correm as mulheres vadias e as lavadeiras,
as mulheres feias, as bonitas, as magras, as gordas.

Os homens fortes com pesadas enxadas correm,
os homens fracos correm menos.

Uma igrejinha de uma porta só
corre...

Correm os bares:
o Boi na Brasa, o Garfo de Ouro...
Até o Bar São Francisco corre,
só eu não corro.


(Itárcio Ferreira)