Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

REVOLUÇÕES, poema de Itárcio Ferreira


Há homens que são capazes
      de revoluções a(r)madas:
       Che.

Homens capazes de revoluções
       desarmadas:
       Jesus.

Outros que apenas preparam
       o caminho, mas não menos revolucionários:
       João Batista, o precursor.

Outros capazes de revoluções
       pela canção: Francisco de Assis,
       e outro Chico, o Buarque.

Outros de revoluções
       pelas palavras: Ferreira Gullar.

Outros, anônimos homens,
       capazes de revoluções diárias:
       o Viver.

Há mulheres capazes
       De revoluções a(r)madas:
       Olga.

De revoluções pelo amor
       fraterno:
       Maria.

De revoluções pelo amor-eros:
       Cláudia,
       subversiva em meu corpo,
       em minha vida.


Visitem o blog do poeta: Itárcio Ferreira, poemas

Para refletir (39)

Francis Bacon

O intelecto humano, quando assente em uma convicção (ou por já bem aceita e acreditada ou porque o agrada), tudo arrasta para seu apoio e acordo. E ainda que em maior número, não observa a força das instâncias contrárias, despreza-as, ou, recorrendo a distinções, põe-nas de parte e rejeita, não sem grande e pernicioso prejuízo.” (Aforismo XLVI do “Novum Organum”)

(Francis Bacon, político, filósofo, ensaísta inglês)

Walter Franco - "Canalha"



Morei na cidade do Cabo de Santo Agostinho, dos sete aos doze anos, litoral sul de Pernambuco, cidade da qual faz parte a praia de Gaibu - hoje totalmente desfigurada pelo "progresso" -, que é um tema recorrente em meus poemas. 

Pois bem, naquela época haviam muitas festas de rua, às quais aguardávamos com muito ansiedade. 

Era um programão e tanto para os pré-adolescentes, com seus hormônios vulcânicos em ebulição, detre estes, eu. 

Nestas festas sempre haviam as rádios improvidas que tocavam músicas para alegrar as brincadeiras. 

Podíamos, inclusive, a um preço bem módico, solicitar uma música é dedicá-la a uma menina pelo qual estávamos apaixonados e que a timidez não nos permitia, cara a cara, fazer uma declaração. 

Suávamos, de ansiedade, esperando a música escolhida, com a dedicatória - de fulano para sicrana-, tocar e ver a reação da nossa amada.

Pois, bem, estamos novamente em uma "festa", para a qual o povo não foi convidado. 

Existe um golpe, em pleno vigor em nosso país, financiado pelos rentista internacionais, com o auxílio da nossa elite racista e parasitária, e o povo vai pagar a conta, uma conta muito salgada.

Dedico esta música, não com amor, mas, com ódio e desprezo, ao STF golpista, traidor da pátria e apodrecido.

Quando um dia vier uma revolução deveremos extirpar esses cânceres, herança da ditadura fascista de 1º de abril de 64 e, criar novas instituições democráticas que tenham por objetivo o bem estar de todos e não apenas de castas. 

Saudades da minha infância. Tristes dias estamos vivendo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

VENTO, poema de Herla Macaba


Porque quando sopras
Levas-me contigo.
Arrastas-me com a mais transfiguradora fúria
A mais inconsequente das intenções.

Fazes de mim, uma serva fiel e obediente
Uma escrava do teu soprar.

Sou aquele pedaço de papel
Que mesmo esfarrapado até ao absurdo
Solta-se ao teu 
ritmo

Aquele pedaço que papel que atravessa
Nações e nações sem procurar saber se há fronteiras.

Sou aquele pedaço de papel
Que mesmo com arame farpado a vista não se esconde.

Aquele pedaço de papel
Sempre pronto para servir-te
Quer chova, quer faça sol
Servir-te sempre.

Pois sei que se molho
Tu secarás-me
Se ardo, transformar-me-ei em cinzas
E mesmo assim seguir-te ei.

Para que os outros um dia saibam
Que os verdadeiros amigos
São para sempre.

Herla Macaba

A filosofia do amor, poema de Percy Bysshe Shelley

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Correm as fontes ao rio
os rios correm ao mar
num enlace fugidio
prendem-se as brisas no ar…
Nada no mundo é sozinho:
por sublime lei do Céu,
tudo frui outro carinho…
Não hei-de alcançá-lo eu?

Olha os montes adorando
o vasto azul, olha as vagas
uma a outra se osculando
todas abraçando as fragas…
Vivos, rútilos desejos,
no sol ardente os verás:
-Que me fazem tantos beijos,
se tu a mim mos não dás?


Tradução Luiz Cardim

Gilberto Gil - "Rebento"

Para refletir (38)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

PROSA, poema de Stéphane Mallarmé


Hipérbole! desta memória
Triunfalmente não tens tido
Como erguer-te, hoje obscura história
Em livro de ferro vestido:


Pois instalo, pela ciência,
O hino de almas espirituais
Na obra de minha paciência,
Atlas, herbários e rituais.


Passeávamos nosso semblante
( Éramos dois, posso afirmar)
Nos encantos da cena adiante,
Ó irmã, para os teus reafirmar.


Turva-se a era de autoridade
Quando, sem motivo, se fala
Desse sul que a duplicidade
De nossa inconsciência assinala


Que, chão multíris, seu lugar,
Se existiu o deverão
Saber, não traz nome que ecoar
O ouro da trompa de Verão.


Sim, em uma ilha que o ar
Enche não de visões mas vista
Toda flor se abria invulgar
Sem em conversa ser revista.


Tais, imensas, que oportuna
Cada uma se preparou
Com lúcido entorno, lacuna
Que dos jardins a separou.


Idéias, glória do desejo,
Tudo em mim se exaltou de ver
As irídeas em cortejo
Surgir para o novo dever,


Mas seu olhar, terna e tranquila,
Não o levou esta irmã
Além do sorriso e, a ouvi-la,
Cuido de meu antigo afã.


Oh! o Espírito de porfia
Saiba, quando estamos silentes,
Que a haste de mil lírios crescia
Por demais para nossas mentes


E não como a margem chora,
Se o jogo monótono mente
E quer a amplitude afora
Neste meu susto viridente


De ouvir todo o céu e a carta
Firmados em meus passos mil
Vezes, pela onda que se aparta,
Que esse país não existiu.


A criança do êxtase abdica
E douta já pelos caminhos
- Anastásio, é o que ela indica,
Criado p'ra eternos pergaminhos,


Antes de um túmulo rir em
Qualquer clima, seu antepassado,
Do nome - Pulquéria! - que tem,
Pelo alto gladíolo ocultado.

Eu sou trezentos, poema de Mário de Andrade

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Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios [beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência
, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Para refletir (37)

Tania Kassis - "Islamo-Christian AVE"

terça-feira, 27 de setembro de 2016

03 poemas de Li T'ai Po


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A Dança dos Deuses

Pus toda a minha alma numa canção que cantei para os homens.
E os homens se riram!
Tomei meu alaúde, fui sentar-me no topo de uma montanha
E cantei para os deuses a canção que os homens não tinham entendido.
O sol baixava. Ao ritmo da minha canção, os Deuses dançaram
Nas nuvens encarnadas que flutuavam no céu.


Diálogo na Montanha

Perguntais por que moro na verde montanha.
Intimamente sorrio, mas não posso responder.
As flores de pessegueiro são levadas pela água do rio...
Há outro céu e outra terra, para além do mundo dos homens.


Ruínas de Su-Tai

Cresceram arbustos nas ruínas do palácio.
Hoje, a lua de Si-kiang é a única dançarina a bailar
Nas salas por onde deslizavam tantas mulheres formosas.

ESTOU CANSADO, poema de Fernando Pessoa


Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Ivan Lins - "Quaresma" (Ivan Lins previu os atuais tempos Temerosos?)



Quaresma 

Acabou toda essa brincadeira
Não há jeito de ser diferente
Como sempre chegou quarta-feira
E a praça não é mais da gente

Andam soltos fantasmas e bruxas
Lobisomem em noites de lua
O saci dança em noites escuras
E ninguém tá seguro nas ruas

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

As igrejas de portas trancadas
Já não entra, nem sai mais milagre
As pessoas de boca fechada
Vão fazer o jejum que lhes cabe

Clareando a sexta-feira santa
Segue a fila de velas acesas
Vêm cantando e o som se agiganta
Orações pra quem não tem defesa

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Procissão de bastões e vassouras
Estilingues, bodoques e pedras
Canivetes, facões e tesouras
Aleluia, é o quebra-quebra

É a dança do queira-ou-não-queira
É vingança, é um Deus-nos-acuda
É o malho, é o fogo, a fogueira
É o povo na pele de judas

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Tudo se repete, oh, maninha
Como antigamente
E o diabo gosta, oh, maninha
Arrepia a gente

Ivan Lins

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Documentário: "Escolarizando o Mundo"

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA, poema de Manoel de Barros

manoel

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Para refletir (36)

Albert Einstein

"(...) O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das secções sub-privilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objectivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos." (in Porquê o Socialismo?, Monthly Review Maio de 1944)

(Albert Einstein, físico teórico alemão)