Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Família Passos - "Marcha do General | Cuidado Capitão"

Família Passos - "Marchinha do 'Reaça' pobre de direita"

Família Passos - "Talquey Talquey A culpa é do PT"

CONHEÇA A FAMÍLIA PASSOS, QUE FAZ SUCESSO COM MARCHINHAS POLÍTICAS NO YOUTUBE


Conheça, nesta entrevista concedida a Carlos Hortmann, para o 247, uma família que na sua intimidade tem por hábito fazer paródias musicais por "tudo e por nada", que tem como forma de vida o deboche e a ironia e que ficou conhecida nas redes sociais recentemente com a marchinha de carnaval "Talquey Talquey A culpa é do PT".

Por Carlos Hortmann, especial para o 247

Uma família que na sua intimidade tem por hábito fazer paródias musicais por "tudo e por nada", que tem como forma de vida o deboche e a ironia. Todavia, ao publicarem um vídeo numa rede social, a "Família Passos" ganhou uma notoriedade retumbante com a marchinha de carnaval "Talquey Talquey A culpa é do PT", mas não parou por aí, depois vieram outras melodias e letras debochadas que colaram no ouvido de muitos brasileiros, como: "Marchinha lava-jato, morô?!", "Marchinha do 'Reaça' pobre de direita" entres outros sucessos das redes. Por meio da música e letras afiadas eles conseguem fazer sínteses políticas que nenhum politólogo conseguiu: "cuidado capitão com a bota do Mourão", ou "O rapaz do lava-jato me enganou só lavou o lado esquerdo do meu carro".

Essa família criativa e musical, que reside na "república de Curitiba", concedeu uma entrevista exclusiva ao Brasil 247. Dessa forma, os nossos leitores poderão conhecer um pouco mais da matriarca Marília, do pai Nilson Reni e das filhas Isis e Lígia Passos.
247 - A família toda trabalha profissionalmente com música?

Isis: sou funcionária pública, porém desde pequena desfrutei de atividades artísticas em casa, visto que a minha mãe é professora de música e a minha irmã é violinista. Mas também participei em eventos musicais de MPB em Curitiba.
Lígia: sou violinista e professora num projeto social. Trabalhamos com crianças financeiramente e psicologicamente vulneráveis, e a partir dessa realidade podemos constatar cotidianamente o quanto a arte é transformadora na vida dessas crianças (voz emocionada).
Marília: sou professora de português e música, só que agora aposentada. Também fui regente de coros infantis e de empresas. Atuo como compositora e arranjadora, tanto que no ano de 2008 fui finalista num concurso de Marchinhas de Carnaval do Rio de Janeiro: "O ET de Copacabana".
Nilson Reni: trabalhei como metalúrgico desde 1977 até me aposentar, mas também atuei uma época como músico na noite e em bandas de carnaval. A nossa família uma época montou um grupo de Música Popular Brasileira (MPB) aqui em Curitiba.
247 – A vossa família tem um histórico de militância política?

Família Passos: grande parte da família nunca teve uma atividade político partidária, mas sempre estivemos comprometidos com os valores progressistas e pelo fim da desigualdade social. Por outras palavras, não somos ligados a nenhum partido.
Nilson Reni: eu particularmente desde muito cedo lutei contra a ditadura militar brasileira, ainda no Rio Grande do Sul. Hoje trabalho no Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, já fiz muitas assembleias em porta de fábrica.
247 – Quando surgiu a ideia de fazerem as marchinhas com temáticas políticas?

FP: começamos a brincar em família quando começou o período eleitoral. Como dissemos anteriormente, a ironia faz parte do nosso modo de ser em família. Tiramos sarro de tudo. Mas ocorreram várias situações que nos puseram a pensar sobre a atual conjuntura, principalmente esses movimentos reacionários de extrema-direita com um discurso anti-cultura em geral: "artista é tudo vagabundo". O exemplo mais impactante desse movimento anti-artista foi os ataques e agressões que o Chico Buarque sofreu, artista de uma importância ímpar na nossa cultura recente. E esses movimentos reacionários foram se alastrando para muitos campos, como a literatura, as artes plásticas e até a educação. Pois estão a tentar criminalizar até uma figura como Paulo Freire, o pensador brasileiro mais lido em universidades estrangeiras. À volta de todo esse contexto é que começamos a tratar de política em nossos convívios familiares, por meio da música e do deboche.
247 – Como reagiram ao perceber que da noite para o dia o vosso vídeo ("Talquey Talquey A culpa é do PT") viralizou na internet?

FP: foi inesperado! Era mais uma brincadeira de família, pois foi uma música que compusemos em meia hora e achamos que ficou "legal", então decidimos colocar no Facebook para os nossos amigos se divertirem também. Muitos desses amigos começaram a partilhar em grupos e em pouco tempo percebemos que o vídeo estava a viralizar. Acreditamos que o aumento de visualizações se deu quando o youtuber, Felipe Neto, divulgou o nosso vídeo nas suas páginas de rede social. Realmente nós não estávamos preparados para tanta repercussão.
247– Vocês tinham a noção de que iriam conseguir furar a bolha da polarização política vigente no Brasil?

FP: Isso foi algo que não premeditamos. Mas realmente ficamos um pouco espantados pelo fato de muitas pessoas que se dizem de direita partilharem as nossas marchinhas, principalmente o primeiro vídeo. Muitas dessas pessoas não perceberam a ironia que estava por detrás de cada frase, por exemplo, "o bozo é mito", ou que nós mesmos estávamos nos chamar de "corja vagabunda de artista" como uma forma de debochar o próprio Bolsonaro.
Gostaríamos de ressaltar que quem nos fornece todas essas ideias de ironia e gozação são a própria turma do Bolsonaro. Vejamos por exemplo, "Jesus na goiabeira", "Mamadeira de piroca" e entre muitas outras. Não é difícil de criarmos porque está tudo tão pronto que só nos resta encaixar os textos nas rimas e depois colocarmos a música. Mas é evidente que gostamos de colocar uma pitada de acidez nas letras: "mamãe eu vou comprar uma arma". Risos!
247 – Vocês têm a consciência de que estavam a fazer um trabalho de politização?

FP: nós sabíamos que ao ironizarmos algumas situações políticas recentes, estávamos a cutucar no atual governo. Nós não nos identificamos com esse governo reacionário, com um presidente que propaga o ódio e a violência como forma de vida. Um governo que olha para os artistas como seus inimigos.
Muitos blocos de carnaval de todo o Brasil, que têm um histórico com pensamento da esquerda ou de resistência nos contactaram a fim de pedir as músicas para serem tocas no carnaval. Nesse sentido podem ser utilizadas como forma de politizar a nossa atual situação política.
Acesse aqui a página da família no Facebook e confira alguns vídeos da Família Passos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

MANUAL DO HOMEM COMUM, poema de Itárcio Ferreira

Imagem daqui


Falar baixinho,
incessantemente,
pois é tão agradável aos ouvidos e à percepção.
Sorrir, que é mostrar a alma ao próximo.
Dar bom dia,
o que tem a força de mil vulcões.
Olhar nos olhos e se ver no outro:
o outro vendo-se em você.
Ceder a vez,
sempre que necessário:
a pressa é inimiga da pressão.
Não ter certezas,
pois são tantas as dúvidas
e é tão grande o ego.
Ser tolerante, uma utopia?
Sejamos teimosos,
tentemos ao menos.
Respeitar os idosos,
que são mais sábios que nós
e o nosso reflexo daqui a instantes.
Indignar-se com a injustiça,
pois a ganância de poucos a alimenta.
Odiar as bombas que nada constroem.
Amar as flores que enfeitam nossos olhos.
Acariciar o cão
com a mesma intensidade com que eles nos acariciam.
Emocionar-se com uma velha canção
regressando ao passado
e tornando o presente dançante.
Compartilhar os livros,
pois fechados os mesmos apodrecem
qual o alimento não consumido.
Escutar, ouvir,
que são sinônimos de sabedoria.
Se preciso, opinar, sem pressas, sem vaidade.
Não reter conhecimentos qual um muquirana.
Amar, até as últimas consequências, a paz,
que tudo constrói.
Evitar, até a morte, a guerra,
que é sinônimo de mortes.
Plantar e dividir o fruto com o próximo.
Regar comunitariamente.
Colher junto com outras mãos
e assim formar uma corrente que liberta.
Soltar os pássaros das gaiolas
e vê-los bailar sob a liberdade.
Libertar os animais dos circos e zoológicos,
que como nós, odeiam as prisões.
Respeitar as diferenças:
sempre, incansavelmente, obstinadamente.
Ser uno, mas divisível.
Ser paradoxal, mas convergente.
Ouvir Beethoven e Spock.
Amar os gays e os não gays.
Ser feminista,
indo ao encontro afável de nossa metade mulher.
Ser negro, índio, amarelo
e buscar na miscigenação o orgulho de sermos iguais.
Ser deficiente,
e na medida do possível cooperar com a sociedade.
Um pedido pessoal:
abram as portas dos banheiros aos cadeirantes:
dos bares, dos hotéis, dos motéis,
afinal também somos boêmios, viajantes e amantes.
Ler que é viajar com o pensamento.
Inventar,
buscando a excelência do servir
a quanto mais gente melhor.
Viver,
pois não temos outra saída
e às vezes é bem gozoso.
Dar as costas às culpas e aos pagamentos,
excluindo as cobranças das religiões e dos banqueiros.
Não temer a morte
que é o caminho reto da vida.
Não temer,
principalmente,
a plenitude da vida em acolhimento.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

OS CAVALOS DE AQUILES, Konstantinos Kaváfis




Quando viram o herói, Pátroclo, morto
– tão moço e tão audaz, tão sem receio –
choraram os cavalos do Peleio
Aquiles. Rebelava-se a imortal
natura deles, vendo a obra mortal.
Cabeças agitadas, crinas bastas,
choravam, a bater no solo os cascos.
Pátroclo extinto (os dois sentiam), sem ânima,
carne cadaverosa, vã, inânime,
sem fôlego vital, inerme, inócua,
de volta finalmente ao Grande Vácuo.

Do pranto dos corcéis imortais, dói-se
Zeus, recordando as bodas de Peleu:
“Teria sido melhor – foi erro meu –
não ter-vos doado, míseros cavalos!
Que faríeis nos tristíssimos convales
da terra, entre os mortais à Moira e à sorte
dados, vós que a velhice poupa, e a morte,
a sofrer fátua pena? Os aranzéis
da humana dor vos prendem.” Os corcéis
porém, de nobilíssima natura,
choram a morte eterna e a desventura.
Konstantinos Kaváfis

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Vapor barato, poema de Waly Salomão


Oh, sim
eu estou tão cansado
mas não pra dizer
que não acredito mais em você
com minhas calças vermelhas
meu casaco de general
cheio de anéis
vou
        descendo
                       por todas as ruas
e vou tomar aquele velho navio
eu não preciso de muito dinheiro
graças a Deus
e não me importa
Oh minha honey baby
baby honey baby
Oh, sim
eu estou tão cansado
mas não pra dizer
que estou indo embora
talvez eu volte
um dia eu volto
quem sabe?
mas eu quero esquecê-la
eu preciso
Oh minha grande
Oh minha pequena
Oh minha grande obsessão
Oh minha honey baby
honey baby

Waly Salomão

sábado, 23 de fevereiro de 2019

NESTE SONETO, poema de Paulo Mendes Campos


Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa do deserto,
Minha emoção é muita, a forma, pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no meu peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.
Paulo Mendes Campos

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

DoodleChaos - "5ª Sinfonia Beethoven"

O discurso sobre a paz, poema de Jacques Prevert


No final de um discurso extremamente importante
o grande homem de Estado, estrebuchante
com uma bela frase furada
fica hesitante
e desampara a bocarra escancarada
resfolegante
mostra os dentes
e a cárie dentária de seu raciocínio pacificante
deixa exposto o nervo da guerra
a delicada questão do montante.

Jacques Prevert

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Cacá Nascimento e Wantuir - "História para ninar gente grande"



Samba-enredo da Mangueira em 2019 fará homenagem a Marielle Franco.

Limites do amor, poema de Affonso Romano de Sant’Anna


Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant’Anna

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Flaira Ferro - "Revólver"

A vaga, poema de Carlos Marighella


De manso surge a vaga.
Vem de leve de uma ruga do mar que o vento ensaia
impelir e rolar. E rola e em breve
numa auréola de espumas cinge a praia.
E é majestosa e bela quer se eleve
expandindo-se toda ou se contraia,
erga-se em cristas brancas como a neve
ou rebramando escachoante caia.
Tal como a vaga é o meu amor por ti
férvido, impetuoso — o que eu senti
no coração com mais ardor vibrar.
Amor que de meus versos dentre a espuma
borbulha e se agiganta e se avoluma
como a vaga rolando sobre o mar.

Carlos Marighella

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

WDL, A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL, JÁ DISPONIBILIZA 20 MIL TÍTULOS EM PORTUGUÊS



A WDL, biblioteca digital mundial, um projeto de colaboração entre a Biblioteca do Congresso dos EUA, a UNESCO e parceiros por todo o mundo, disponível através do site www.wdl.org, já está com mais de 20 mil títulos em sua versão em portugês.  A BDM oferece documentos de caráter patrimonial em idiomas diferentes:árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português. Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas.

Com acesso gratuito e sem necessidade de registro, a plataforma reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos sobre a riqueza cultural de todas as bibliotecas do planeta, como o Hyakumanto darani, um documento em japonês publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história.
A biblioteca tem, ainda, a Bíblia de Gutenberg; um relato dos azetecas que constitui a primeira menção do Menino Jesus no Novo Mundo; trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Também está disponível documento sobre a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países.
O internauta poderá orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. 
Os seus responsáveis afirmam que a BDM está sobretudo destinada a investigadores, professores e alunos.