Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CANTIGA PARA QUEM PARTE


"A morte
exige trabalho, trabalho lento
como quem nasce."
(Affonso Romano de Sant'Anna)


                      

                                À memória de Itaney e de Vó Lídia




A morte é clara e límpida

como água,

tão certa como... a morte.



No entanto, quando nos dizem

morreu!,

achamos impossível,

tão cedo! Tão rápido!

Tão feroz!



E nem percebemos como

as suas afiadas garras

dilaceram nosso coração,

nosso espírito.




Quando vemos, morremos também

um pouco.



Mas a vida segue

indiferente aos nossos protestos,

como se nada houvesse acontecido,

como os humildes

que sempre esbarram

em interesse dos poderosos.



E queremos gritar e dizer:

Morreu! Você não sente?



Mas nos reconfortamos nas lágrimas

e nas lembranças,

pois a morte é natural,

mas como custa a acostumar!


(Itárcio Ferreira)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

LUÍS CARLOS PRESTES



Vejo tua foto numa revista semanal,
reportagem sobre os cem anos da
República.
Olho-te com carinho,
como costumo olhar
as fotos de meus filhos,
de meus pais,
de parentes que amo,
de amigos distantes ou ausentes.

És, ainda, na foto, um jovem
com barbas e sonhos,
mas não apenas sonhos, matéria efêmera,
também ações.

Na foto, és um jovem
como sou hoje eu,
como somos muitos no nosso país.
Mas há uma diferença
entre ti e mim,
entre ti e alguns jovens de nosso país,
ontem e hoje,
és imprescindível,
daqueles homens de quem fala
um poema de Brechet.

Eu, e sinto necessidade de fazer-me
revelar:
apenas um fraco? um egoísta? narciso?

Admiro-te, e onde minha coragem ante teu exemplo?
Preocupa-me mais o meu emprego,
a minha casa, o meu carro.
Não que viver bem
não seja necessário,
mas não apenas o meu viver bem,
mas o de todos.

Admiro-te, admiro a tua vida
e a de teus companheiros:
a dedicação à luta, a um ideal
que compartilho,
mas que não tenho coragem suficiente
de levantar como bandeira
(fraco? egoísta? narciso?).

Vejo-te hoje velho e sempre digno
(ah se estivesses vivo...),
o que não podemos dizer de todos os homens
de nosso país.

Mas há alguns que nos fazem renascer
a esperança.
Hoje temos a esperança de eleger Lula
em quem temos fé,
uma fé racional.
Cremos neste novo homem
que, como tu, tem desejo, vontade e ação.

Hoje, como ontem,
temos a esperança,
hoje temos Lula e seus companheiros,
jovens e velhos brasileiros,
como ontem te tivemos,
como sempre te teremos,
Cavaleiro da Esperança.

Olinda, 02.12.89

(Itárcio Ferreira)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ÚLTIMO POEMA

(Isadora Duncan - 1877/1927)



Que meu último poema,
depois de tanta vida vivida,
que é o mesmo que dizer:
depois de tanta vida sofrida,
fosse um poema dançante.

Um poema como um corpo
que bailasse livre
de amarras sociais
e da poliomielite.
Um poema com a cara da Isadora Duncan.

Um poema que saísse
alegre e louco
das páginas do livro
mal ouvisse o Lago dos Cisnes
de Tchaicovski
ou um frevo de Capiba. 


(Itárcio Ferreira)