MEU QUINTANA (por Manuel Bandeira)
“Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares…
Insólitos, singulares…
Cantares? Não! Quintanares!
Insólitos, singulares…
Cantares? Não! Quintanares!
Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.
São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.
Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.
E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares
Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.
Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares…
Perdão! digo quintanares.”
Quintana, nos teus cantares…
Perdão! digo quintanares.”
(Por Manuel Bandeira)
——————————-
O poema acima foi uma homenagem composta por Manuel Bandeira para seu amigo Quintana após sua terceira rejeição na Academia Brasileira de Letras, foi lida na própria ABL por Bandeira ao lado de Augusto Meyer. A rejeição de Mario e de tantos outros poetas maiores (ao lado da incorporação oportunista de escritores de conveniência) é uma das chagas que carrega a Academia. A intenção de Bandeira foi a melhor possível, consolar seu amigo desolado. Ser rejeitado três vezes é trágico (diria Quintana), pra começar a ser cômico precisaria de uma quarta, quinta e sexta rejeições. Mesmo aceitando o poema-presente, o poeta de Alegrete contava com algo mais eficaz para descolar-se da tristeza: sua própria poesia sacada de sua garganta com precisão para fatiar em duas partes os amuros e desatravancar seu caminho:
Nota SeNCPMGrito: Os meus três poetas preferidos, por ordem de
conhecimento, Bandeira, Drummond e Quintana.
Via lituraterre
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Apenas comentários inteligentes. Palavras chulas ou xingamentos serão deletados.