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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ética e jornalismo


Publicado originalmente em 19 de junho de 2009, no Claudicando.

A preocupação com a ética deve estar presente em todas as atividades humanas, sejam elas práticas, manuais, mecânicas ou intelectuais. A atividade jornalística, portanto, não pode fugir da regra.


O problema da ética vinculada a moral, ou da ética como a ciência, que tem por objeto de estudo a moral é preocupação que vem desde a antiga Grécia. Espinoza entendia a ética como superior a moral, ou seja, a ética compreendida como valores superiores e universais que independiam dos valores morais de uma determinada sociedade ou de uma determinada época.


Entretanto observamos em nossa sociedade a atividade jornalística sendo exercida sem a observância de preceitos éticos, ou seja, de valores superiores e universais, elegendo como seus valores, interesses financeiro-mercadológicos e ideológicos.


Como interesse financeiro-mercadológico está à premissa de vender mais e mais a qualquer custo o seu produto final: a notícia, a fim de obter lucro e se manter vivo num mercado competitivo e, através do lucro, multiplicar lucros, a velha acumulação capitalista.


E mais, a fatia financeiro-mercadológica diz respeito também, a maneira de apresentar o seu produto como atraente ao mercado. Quais as opções? Jornalismo esportivo? Imprensa marrom? Jornalismo cultural? Não importa, a escolha recairá sobre a opção mais lucrativa, independente de qualquer outro valor. Novamente o problema ético.


O viés ideológico talvez seja o de maior preocupação, posto que trata de manipular determinado fato sob uma única ótica, a ótica do dono do poder, que pode ser o dono do jornal ou do grupo político dominante, sendo a verdade do fato, ou pelo menos, a narrativa real do acontecimento, o aspecto menos importante.


Lembremo-nos de um fato recente, que bem ilustra a agonia ética por que passa o nosso jornalismo, seja ele falado, escrito ou televisionado, o caso da Escola de Base, onde, sem qualquer prova ou amparo de uma investigação concluída, os donos da Escola foram acusados de abuso sexual contra os alunos do estabelecimento. A imprensa, com preocupações únicas financeiras e mercadológicas, irresponsavelmente alardeou o fato, que posteriormente se comprovaria inverídico. O resultado foi à depredação da escola e conseqüentemente a ruína do patrimônio dos seus donos, sem contar os danos morais e psicológicos dos acusados, estes imensuráveis.


A partir de fatos como este, cabe uma reflexão quanto à ética jornalística – seus valores atualmente adotados são valores universais e moralmente superiores? Com certeza que não.

Recife, 23 de maio de 2002.

(Itárcio Ferreira)

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