A preocupação com a ética deve estar presente em
todas as atividades humanas, sejam elas práticas, manuais, mecânicas ou
intelectuais. A atividade jornalística, portanto, não pode fugir da regra.
O problema da ética vinculada a moral, ou da ética
como a ciência, que tem por objeto de estudo a moral é preocupação que vem
desde a antiga Grécia. Espinoza entendia a ética como superior a moral, ou
seja, a ética compreendida como valores superiores e universais que independiam
dos valores morais de uma determinada sociedade ou de uma determinada época.
Entretanto observamos em nossa sociedade a
atividade jornalística sendo exercida sem a observância de preceitos éticos, ou
seja, de valores superiores e universais, elegendo como seus valores,
interesses financeiro-mercadológicos e ideológicos.
Como interesse financeiro-mercadológico está à
premissa de vender mais e mais a qualquer custo o seu produto final: a notícia,
a fim de obter lucro e se manter vivo num mercado competitivo e, através do
lucro, multiplicar lucros, a velha acumulação capitalista.
E mais, a fatia financeiro-mercadológica diz
respeito também, a maneira de apresentar o seu produto como atraente ao
mercado. Quais as opções? Jornalismo esportivo? Imprensa marrom? Jornalismo
cultural? Não importa, a escolha recairá sobre a opção mais lucrativa,
independente de qualquer outro valor. Novamente o problema ético.
O viés ideológico talvez seja o de maior
preocupação, posto que trata de manipular determinado fato sob uma única ótica,
a ótica do dono do poder, que pode ser o dono do jornal ou do grupo político
dominante, sendo a verdade do fato, ou pelo menos, a narrativa real do
acontecimento, o aspecto menos importante.
Lembremo-nos de um fato recente, que bem ilustra a
agonia ética por que passa o nosso jornalismo, seja ele falado, escrito ou
televisionado, o caso da Escola de Base, onde, sem qualquer prova ou amparo de
uma investigação concluída, os donos da Escola foram acusados de abuso sexual
contra os alunos do estabelecimento. A imprensa, com preocupações únicas
financeiras e mercadológicas, irresponsavelmente alardeou o fato, que
posteriormente se comprovaria inverídico. O resultado foi à depredação da
escola e conseqüentemente a ruína do patrimônio dos seus donos, sem contar os
danos morais e psicológicos dos acusados, estes imensuráveis.
A partir de fatos como este, cabe uma reflexão
quanto à ética jornalística – seus valores atualmente adotados são valores
universais e moralmente superiores? Com certeza que não.
Recife, 23 de maio de 2002.
(Itárcio Ferreira)
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