Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 31 de maio de 2018

O Mal e o Sofrimento, poema de Leandro Gomes de Barros




Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

Leandro Gomes de Barros

domingo, 27 de maio de 2018

E agora, mané?, por Elika Takimoto

Aroeira

E agora, mané?
A gasolina acabou,
a pobreza aumentou,
o gás subiu,
o patrão se irritou,
e agora, mané?
e agora, você?
você que não passou fome
que zombou dos pobres,
você que é perverso
que trama, “protesta”
e agora, mané?

Não respeita mulher,
Não respeita o discurso,
Não respeita carinho,
já não pode receber,
já não pode gastar,
divertir já não pode,
a noite esfriou,
o uber não veio,
o táxi não veio,
o motorista não veio
não veio a empatia.

A democracia acabou
A democracia sumiu
A democracia mofou,
e agora, mané?

E agora, mané?
Sua estúpida palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
seu raciocínio furreca,
sua palavra de agouro,
seu neurônio de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com o celular na mão
se faz de morta,
não há quem lhe suporta;
quer correr para conversar,
mas a paciência acabou;
quer ir para Miami,
Vôos não há mais!
Mané, e agora?

Se você pensasse,
se você algo lesse,
se você lembrasse
das aulas pertinentes,
se você ouvisse,
se você raciocinasse,
se você estudasse...
Mas você não acorda,
você é burro, mané!

Com o exército na rua
qual capitão do mato,
sem democracia,
sem algo que usufrua
para ostentar,
sem cavalo preto
Para fugir a galope,
você pasta, mané!
Mané, até quando?

(Revisitando Carlos Drummond - E agora, José?)

segunda-feira, 21 de maio de 2018

OROPA, FRANÇA E BAHIA, poema de Ascenso Ferreira



    (Romance)
      
                    
    Para os 3 Manuéis:
                       
    Manuel Bandeira
                       
    Manuel de Sousa Barros
                       
    Manuel Gomes Maranhão
      
    Num sobrado arruinado,
    tristonho, mal assombrado,
    que dava pros fundos da terra.
    ("Pra ver marujos,
    Tirulilluliu!
    quando vão pra guerra...")
    E dava fundos pro mar.
    ("Pra ver marujos,
    Tiruliluliu!
    ao desembarcar").
     
              ...Morava Manuel Furtado
              português apatacado,
              com Maria de Alencar!
     
    Maria era uma cafuza,
    cheia de grandes feitiços.
    Ah! os seus braços roliços!
    Ah! os seus peitos maciços!
    Faziam Manuel babar...
     
             A vida de Manuel,
             que louco alguém o dizia,
             era vigiar das janelas
             toda a noite e todo o dia,
             as naus que ao longe passavam,
             de "Oropa, França e Bahia"!
     
    — Me dá uma nau daquelas,
    lhe suplicava Maria.
    — Estás idiota, Maria.
    Essas naus foram vintena
    que eu herdei de minha tia!
    por todo o ouro do mundo
    eu jamais as trocaria!
     
              Dou-te tudo o que quiseres:
              Dou-te xale de Tonquim!
              Dou-te uma saia bordada!
              Dou-te leques de marfim!
              Queijos da Serra da Estrela,
              perfumes de benjoim...
     
    Nada.
    A mulata só queria
    que Seu Manuel lhe desse
    uma nauzinha daquelas,
    inda a amais pichititinha,
    pra ela ir ver essas terras
    de "Oropa, França e Bahia"...
     
               — Ó Maria, hoje nós temos
              vinhos da Quinta do Aguirre,
              umas queijadas de Sintra,
              só pra tu te distraíre
              desse pensamento ruim...
              — Seu Manuel, isso é besteira!
              Eu prefiro macaxeira
              com galinha de oxinxim!
     
    "Ó lua que alumiais
    esse mundo do meu Deus
    alumia a mim também
    que ando fora dos meus..."
    Cantava Seu Manuel
    espantando os males seus.
     
                 "Eu sou mulata dengosa,
                 linda, faceira, mimosa,
                 qual outras brancas não são"...
                 Cantava forte Maria,
                 pisando fubá de milho,
                 lentamente no pilão...
     
    Uma noite de luar
    que estava mesmo taful,
    mais de 400 naus,
    surgiram vindas do Sul...
    — Ah, Seu Manuel, isto chega...
    Danou-se de escada abaixo,
    se atirou no mar azul.
     
                — "Onde vais mulhé?"
                — "Vou me daná no carrossé!
                — "Tu não vais, mulhé,
                mulhé, você não vai lá..."
     
    Maria atirou-se n'água,
    Seu Manuel seguiu atrás...
    — Quero a mais pichititinha!
    — Raios te partam, Maria!
    Essas naus são meus tesouros,
    ganhou-as matando mouros
    o marido de minha tia!
    Vêm dos confins do mundo...
    De "Oropa, França e Bahia"!
     
                 Nadavam de mar em fora...
                 (Manuel atrás de Maria!)
                 Passou-se uma hora, outra hora,
                 e as naus nenhum atingia...
                 Fez-se um silêncio nas águas,
                 cadê Manuel e Maria?!
     
    De madrugada, na praia,
    dois corpos o mar lambia...
    Seu Manuel era um "Boi Morto",
    Maria, uma "Cotovia"!
     
               E as naus de Manuel Furtado,
               herança de sua tia?
     
    — Continuam mar em fora,
    navegando noite e dia...
    Caminham para "Pasárgada",
    para o reino da Poesia!
    Herdou-as Manuel Bandeira,
    que ante a minha choradeira,
    me deu a menor que havia!
     
              — As eternas Naus do Sonho,
              de "Oropa, França e Bahia"...
      
    Ascenso Ferreira 

quarta-feira, 16 de maio de 2018

quarta-feira, 9 de maio de 2018

LONDON REVISITED, poema de Inaldo Cavalcanti


Os espelhos nunca morrem:
Conspiram contra o silêncio.
 
Aturde a flor o vento rude.
Sangra nas raízes o mundo.
 
Perversa a minha dor:
De mim vive, e não me faz feliz

Inaldo Cavalcanti