Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sábado, 30 de novembro de 2013

LEALDADE



Gostaria de ser fiel.
Estou sendo sincero,
Gostaria sim, muito.

Mas a minha alma,
A minha essência, é de bandoleiro,
Errante,
E meu coração e cérebro se processam
A mil.

Não, não, não,
Não sou infiel a minha família,
Parentes ou amigos,
Estou sempre presente,
Podendo ou não podendo,
Curtindo ou me phodendo.

Não, não, não,
Não sou infiel as minhas convicções,
Por nada abriria mãos delas,
Mesmo diante da morte
Que é o nosso maior bem,
Talvez o único.

Não, não, não, 
Minha família, meus amigos,
Mesmo aqueles apenas de mesa
De bar,
Meus desejos, o álcool, a poesia,
Minha confiança total no socialismo,
Meu ateísmo que não quer convencer
Ninguém, mas apenas viver em paz,
Estão guardados, dentro de uma caixa,
Feita de diamantes,
E incrustada no meu coração.

Não, não, não,
Não posso colocar a culpa da
Minha infidelidade apenas na genética,
Ou posso?

A beleza, a arte, o carinho, o encanto,
O mimo, o despertar, faz renascer
A química do amor, do desejo e do sexo.

Como gostaria de ser fiel
- nem mesmo deus sabe dos meus segredos -
Pois ele não existe.

Talvez a arte, a poesia, a visão,
O olfato, ah o olfato.
Casado, não consigo deixar de me apaixonar,
Quase que diariamente, por um poema
- Ou uma mulher -
Que sorri, que olha, que passeia:
Em busca de agrado, de carinho, de amor, de felicidade.

Horror, horror, horror!
- Obrigado, Shakespeare -
Como gostaria de ser fiel,
Apesar de ser leal. 


(Itárcio Ferreira)



A Rosa de Gaza





Você sobreviveu ao genocídio
Você sobreviveu aos massacres
Você sobreviveu à humilhação.

Mas não conseguiram fazê-la odiar!

Destruíram sua casa
Destruíram sua escola
Destruíram sua infância

Mas não conseguiram fazê-la odiar!

Bela menina de Gaza
Tens muito a ensinar
Teu gesto redime a humanidade

Pois até os brutos podem se comover

Bela menina de Gaza
Bela rosa de Gaza
Teu gesto é a glória de seu povo

Bela menina-rosa de Gaza

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

ESPELHOS, EM TRÊS REFLEXOS



REFLEXO I

A primeira vez que um espelho mágico 
Chamou a minha atenção,
Iam-se lá cinco ou seis anos de vida.

Foi na casa de minha tia Nete,
Um espelho grande,
Quase do tamanho de uma porta,
Um gigante!
Fiquei fascinado.

Olhava-o por vários minutos
Esperando que meu reflexo
Errasse algum movimento da coreografia
Dos meus braços e caretas.

Imaginava se haveria um mundo dentro
Da masmorra onde se aprisionara o meu reflexo,
Com certeza influência de Alice.

Era bom o mundo,
Eram bons os sonhos,
Criança,
Não imaginava o terror da existência.



REFLEXO II

Usava barbas na adolescência,
Para parecer mais velho para as meninas.

Diante do espelho
Aparava o excesso de pelos
E desenhava algumas linhas.

Apesar da poliomielite,
Via, na minha imagem refletida,
Um jovem forte e bonito,
Alegre e disposto a lutar por um mundo melhor.

Vez ou outra,
Quando alguma lágrima nascia,
Em virtude de algum percalço,
Ou das pequenas e grandes derrotas
Que se iam acumulando
Não meu lixão da vida,
O espelho, de alguma forma,
Avisava-me, você é apenas um,
Existem bilhões no planeta.

O fracasso na música,
- Contrabaixo, violão, piano, -
Um poeta que ninguém lia,
Um casamento aos dezoito anos,
A necessidade de trabalhar para sustentar meu rebento,
O corre-corre da faculdade,
As paixões fora do casamento,
Fizeram-me esquecer da magia do espelho
Que vivi aos cinco ou seis anos.
  


REFLEXO III

Acabo de completar cinquenta e um anos,
Olho no espelho e não me reconheço.
Os sonhos de mudar o mundo através do socialismo
Ainda persistem mais fortes do que nunca,
Mas sei que já não será no meu tempo,
Talvez no tempo dos meus filhos
Ou no tempo dos meus netos.

No espelho do meu banheiro,
Vejo um homem com nuvens brancas nos cabelos,
Os sulcos no meu rosto lembram as rotas abertas nas selvas,
A facão, a foice e a martelo.

O sorriso meio sem graça,
Os dentes amarelados,
- Efeito dos cigarros, do bom álcool, e do invisível tempo -
Indicam que a vida passou,
E passa, enquanto escrevo este poema,
No dia do meu aniversário.

Junto aos amigos,
Em companhia do velho álcool,
Remédio para as dores reumáticas,
E para grandes derrotas e perdas da vida,
Lembramos, emocionados:
A queda do muro de Berlim,
A capitulação da URSS,
O neoliberalismo,
Que quase me levou a loucura,
Por minha impotência,
Por nada poder fazer,
Pela revolução que não vinha.

A vitória de Lula e a esperança de uma sociedade socialista,
A decepção.
O medo do retrocesso via judiciário...

Evito conversar com minha imagem refletida
Naquele artefato mágico da infância.

As lutas viraram rotinas, e não são mais tão épicas,
- Até conseguir cortar as unhas dos pés,
Já é uma grande vitória -
Os remédios que me salvam,
- Também da depressão -
São as amizades,
As conversas na mesa de bar,
E continuar sonhando, sempre,
Um Sancho Pança, orgulhoso,
Cevado a antidepressivos e ansiolíticos.

É recorrente lembrar,
- E me faz rir - 
A minha descoberta
Aos cinco ou seis anos,
Na casa da minha Tia Nete:
O espelho mágico.

E como na cantiga de minha infância:
Esperar, esperar, esperar,
Até a morte chegar!
Quem sabe, como um presente,
No dia do meu próximo aniversário.


(Itárcio Ferreira)

MINHA COR



Vermelho da cor do fuxico.

Vermelho pode ser feio ou bonito.

Uma cor regada de contrastes,

Contida no sangue e na flor,

Vermelho é a cor da minha dor e do meu amor.

Só não é o cor do meu baton.

Vermelho tem o cheiro da minha pele:

Tem doçura e veneno que, na pele dele, se modelam.
(...)


Poema de Steres, publicado no blog Felicidade Oscilante



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A CARNE



Paixões da carne a queimar feito o fogo da Inquisição,
feito as bombas de napalm nos Vietnãs.

Teu corpo aberto no meu corpo,
dois corpos e um só dono desejo.

Noites,
lembranças,
teu cheiro,
insônia, copos de vinho barato
e essa música de violino que nada me lembra ou diz.

Carnes frescas e frias
como a desse bife sangrando
ou as tuas carnes febris e tensas
como fios elétricos, choques
e descargas.

O amor em teu corpo de formas enxutas
e essa toalha de feltro
pendurada na parede no banheiro.


(Itárcio Ferreira)

A MAGDA CUBANA

Publicado originalmente em 

17 de abril de 2010,

Acabei de ler às duas partes da entrevista da blogueira cubana Yoani Sánchez, a nova musa da direita ocidental, ao Professor Salim Lamrani, foi um verdadeiro massacre, do professor, é claro.


Fiquei com pena da coitada, – mentirinha – a direita ocidental deveria ter encontrado alguém mais inteligente, coerente, com um mínimo de lógica nas suas posições mas, na falta, foi ela mesmo.

A menina não tem um pingo de orientação, tampouco informação histórica, ficou tonta feito um peru de Natal ante as perguntas do Professor Salim, se contradisse o tempo todo, e assim como o PIG nacional e ocidental bradou ladainhas decoradas contra Cuba, inclusive a pérola “O governo cubano deseja a manutenção das sanções econômicas.”

Só lendo para crer.

A respeito transcrevo, do excelente blog Cidadã do Mundo, a seguinte opinião acerca do desmascaramento da impostora blogueira cubana:

“A entrevista é extensa, mas fiz questão de a ler na íntegra. Sinceramente, nunca vi tanta incoerência junta! Eu já sabia que ela era mentirosa, mas nunca pensei que fosse tão limitada, do ponto de vista intelectual e argumentativo. Desde o principio até ao fim da entrevista, são tantas as contradições que não me consegue convencer de todo!”

Caso toda a oposição ao governo de Cuba tivesse tal nível de coerência poderíamos ficar tranqüilo a respeito de sua continuidade.

P.S. Leia a entrevista completa, em português, aqui no Blog do Velho Comunista.


(Itárcio Ferreira)



Um poema em homenagem ao França


Vejo Bob Marley e França
Cada um no seu papel
Junto a Espinhara e Luna
No além um escarcéu
O negão pegou seu rumo
Deve estar queimando fumo
Com Bob Marley no céu.




terça-feira, 26 de novembro de 2013

O POEMA ENGAJADO OU INTERROMPENDO O CAFÉ


  
Pela manhã,
entre fatias de pão torradas
e geléia de morangos,
penso num poema contra a fome.

Pela manhã,
entre um copo de leite
e queijos,
sinto-me hipócrita
e, de repente, perco meu apetite,

pequeno burguês.


(Itárcio Ferreira)

CANTO PARA AS MÃOS PARTIDAS DE VICTOR JARA




Quisera chorar teus dedos dilacerados:
raízes do meu canto subterrâneo.

Quisera chamar-te “Hermano”
como a infância dos rios
lava o rosto da terra,

mas minha boca sangrava
um silêncio de canções amordaçadas.

De tuas mãos se dirá um dia:
geravam pássaros de sangue
como as primaveras da lua.

Tuas mãos,
tristes descendentes das canções araucanas,
tuas mãos mortas,
casa de canções decepadas,

tuas mãos rotas,
últimas filhas do vento,

guitarras enterradas sem canto,
sementes de fuzis,
seara de sangue.

Quisera entregar
minhas mãos inúteis
ao cepo de teus carrascos.

(Pedro Tierra)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

MEDIDA


O poema deve ter a medida certa,
deve servir ao seu tempo,
             estar vivo
             e ser real.

O poema, pelo menos nos dias de hoje,
não deve sonhar,
mas lutar,
que suas palavras,
quando lidas em voz alta
             pelos oprimidos,
penetrem nas cabeças
dos ouvintes
e lá se alojem como balas.

Mas o poema não deve matar,
e sim impedir a morte,
e sim impedir a injustiça.

O poema, nos dias de hoje,
deve ter a medida certa,
             exata,

             como o metro.


(Itárcio Ferreira)