Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

1987, tende piedade de nós, poema de Paulo Leminski

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anos ímpares
são anos vítimas
anos sedentos
de sangue e vingança
todo gozo será punido
e o deserto será nossa herança

anos ímpares
são sarampo ínguas cataporas
bocas que praticam
tacos e cacos de línguas
lixos onde mora a memória

muda a regra, muda o mapa
muda toda a trajetória
num ano impar,
só não muda a nossa história

Paulo Leminski

O meu pau fica duro, por Rogério Skylab

terça-feira, 29 de setembro de 2015

CARLOS MAIA: As árvores cresceram E dão sombra...


As árvores cresceram
E dão sombra...
Desde novo
Buscava nas suas copas
A essência da vida.
Agora, com 46 anos
Voltava ao colégio
Em que estudou.
A experiência de
Longas meditações
Desabrochava agora
Nas memórias, nas reminiscências...
Como se a experiência de hoje
Fosse transportada
Para 28 anos atrás,
E ele reconhecesse na época
Já o fruto maduro da sua busca,
No eterno contemplar
Das constelações...


Tropicália - A voz de uma geração, um filme de Marcelo Machado

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Amavisse, poema de Hilda Hilst



Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

Hilda Hilst

Ape

domingo, 27 de setembro de 2015

Espelho não me prova que envelheço, poema de William Shakespeare



O espelho não me prova que envelheço
Enquanto andares par com a mocidade;
Mas se de rugas vir teu rosto impresso,
Já sei que a Morte a minha vida invade.

Pois toda essa beleza que te veste
Vem de meu coração, que é teu espelho;
O meu vive em teu peito, e o teu me deste:
Por isso como posso ser mais velho?

Portanto, amor, tenhas de ti cuidado
Que eu, não por mim, antes por ti, terei;
Levar teu coração, tão desvelado
Qual ama guarda o doce infante, eu hei.

E nem penses em volta, morto o meu,
Pois para sempre é que me deste o teu.


William Shakespeare

"Não tenho nenhum preconceito, mas..."

Ateuzice 2

sábado, 26 de setembro de 2015

Universo no teu corpo - Taiguara

Famílias

Que me venha esse homem - Fafá de Belém

Que me venha esse homem

Que me venha esse homem
Depois de alguma chuva
Que me prenda de tarde
Em sua teia de veludo
Que me fira com os olhos
E me penetre em tudo

Que me venha esse homem
De músculos exatos
Com um desejo agreste
Com um cheiro de mato
Que me prenda de noite
Em sua rede de braços

Que me venha com força
Com gosto de desbravar
Que me faça de mata
Pra percorrer devagar
Que me faça de rio
Pra se deixar naufragar

Que me salve esse homem
Com sua febre de fogo
Que me prenda no espaço
De seu passo mais louco
Que me venha esse homem

Que me arranque do sono
Que me venha esse homem
Que me machuque um pouco.


Bruna Lombardi

Uma ode ao poeta

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

SATURNAL, poema de Olga Savary

Paraíso é essa boca fendida de romã
— bagos de vida,
paraíso é esse mistério de água ininterrupta
fluindo do terminal das coxas,
é a vulva possuída-possuindo
violáceo cacho de uvas,
é esse dorso de vinho navegável
atocaiado para um crime.


Olga Savary

Sermão do Diabo, poema de Paulo Mendes Campos



Bem-aventurados os aleijados porque não distinguem as proporções dos
sentimentos morais e desenham triângulos tortos na areia.

Bem aventurados os cegos de nascença porque rangem quando rangem
nas curvas os astros do cosmos sem música.

Bem-aventuradas as mulheres feias porque trocam sinais com a Via-Láctea
e são tangíveis a todas as semáforas.

Bem-aventurados os que morrem nas catástrofes ferroviárias porque a vida
foi de repente a sinistra aventura.

Bem-aventurados os desequilibrados líricos porque inventam tristes
gnomonias.

Bem-aventurados os que perdem os filhos porque, incendiados, são hábeis
em distinguir a estrela do naufrágio.

Bem-aventurados os mendigos porque pertencem às searas mitológicas.

Bem-aventurados os suicidas porque chegam de armas na mão ao outro
lado.

Bem-aventurados os indigentes porque resumem as misérias da poesia.

Bem-aventurados os bêbados sem remédio porque se extinguem no crepúsculo
como o carvão.

Bem-aventurado o que alimenta um mal secreto porque pode telefonar à
hiena e convidá-la para jantar.

Bem-aventurado o indivíduo que tem o rosto deformado porque pode olhar
a morte nos olhos e interrogá-la.

Bem-aventurados enfim todos os homens, todas as mulheres, todos os
bichos, bem-aventurados o fogo e a água, bem aventurados as pedras
e as relvas, bem-aventurado o Deus que cria o universo e o demônio
que o perdoa.

Chico César no Cultura Livre (Bônus)

DILEMA, poema de Itárcio Ferreira

Avião, nuvens, minimalismo, a340 Vetor


De que adianta queimar os meus navios

Se hoje existem os aviões?



Itárcio Ferreira

Tatuagens em linhas

Linha Tattoo Art por Chaim Machlev DotsToLines

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Linha Tattoo Art por Chaim Machlev DotsToLines

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A leitora que fez o Luci se emocionar

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Flor da Idade - Chico Buarque



Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava 
Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha.

Quadrilha, poema de Carlos Drummond de Andrade



João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Matador de Passarinho - Rogerio Skylab entrevista Tim Rescala

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Dois poemas de Carlos Maia

Minha foto


A seriedade
Dos homens de plástico
Que leem jornais
E não vêem
Os Ipês roxos
Floridos
Da Agamenon Magalhães
Esmaga
Todo o cotidiano!

***

O homem com as suas
Máquinas posantes
Distancia-se
A cada dia mais
Do próprio homem
E anda perdido no facebook,
Orkut, E-mail's e internet
E não vê mais o amigo
Face a face!


"Modinha" de Sérgio Bittencourt, por Taiguara

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Aviso importante!

Imagem do projeto Yes, We Fuck

"Amor Marginal", por Johnny Hooker

A Flor e a Náusea, poema de Carlos Drummond de Andrade



Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

A arte de Júlio César

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domingo, 20 de setembro de 2015

Divina Comédia Humana



Trecho final: poema Via Láctea - Olavo Bilac.

Via Láctea (trecho XIII), poema de Olavo Bilac

 

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


Olavo Bilac

Ora direis ouvir estrelas, de Olavo Bilac, por Juca de Oliveira

Como parecer inteligente numa palestra

sábado, 19 de setembro de 2015

Ilhas Seicheles 2, por Thomas P. Peschak


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Estas e outras fotos foram publicadas no site Momento Curioso, ilegalmente, sem a informação da fonte e do link para o original, ou seja, a página do autor Thomas P. Peschak.