Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

domingo, 31 de janeiro de 2016

Opinião: Raimundo Carrero distingue o que é ser um escritor e um escrevente

carrero 2

Via Estante Literária

O post de hoje é mais uma opinião do escritor e crítico literário Raimundo Carrero (que já apareceu aqui em outros dois posts). Além de ser autor de sucesso, com livros aclamados pela crítica e pelos leitores – um público seleto e fiel -, Carrero faz um grande trabalho de incentivo à literatura, buscando entrar em contato com as gerações mais jovens de autores. Além dos manuais de escrita publicados e oficinas que ministra no Recife e em workshops por todo o Brasil, ele ainda nos dá alguns vislumbres – sim, vislumbres – da importância da literatura através dos artigos publicados em suas colunas de crítica literária (como as dos jornais “O Rascunho” e “Diário de Pernambuco”). Ele acredita que, com esforço e prática, um escritor pode atingir os mais elevados níveis de qualidade, sofisticação e estética literária. E mais importante: Carrero não ensina a escrever, ensina o ofício do escritor; tal qual um mestre artesão passa seus conhecimentos ao aprendiz, ele transmite suas experiências aos aspirantes a escritor. Vejam por si neste artigo publicado pelo Diário de Pernambuco:

Ao longo da minha já envelhecida vida – são quase setenta anos, o que me surpreende – conheci muitos escreventes e poucos escritores. Não basta encher papel de tinta e colocar o nome na capa. É pouco, muito pouco, quase nada. Sobretudo quando não se registra uma só reflexão própria, um só comentário individual. Às vezes nem mesmo uma única palavra própria. Os escreventes são muitos, milhares e estão em todos os lugares. Pululam pelas esquinas e pelos becos. Mal sabem alinhar duas palavras. E mesmo quando sabem escrever bem, muito bem, ainda assim não são escritores. Quando muito, e com algum favor, escreventes.                                                                                        
Tenho, por isso mesmo, um grande respeito ao título, e fico completamente arrasado quando me chamam de escritor. Estou longe, muito longe de ser um escritor, um verdadeiro escritor. Meus amigos até reclamam, mas não me sinto ainda um escritor. É preciso mais, muito mais, bem mais. Um verdadeiro escritor é aquele cuja palavra faz falta à sociedade. Escritores de verdade são, por exemplo, Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho, Gilberto Freyre, Maximiano Campos, e quase todos, ou todos os poetas da Geração 65. Poderia usar o verbo eram, mas insisto no são. Porque mesmo aqueles que morreram continuam escrevendo no silêncio da eternidade. Renato Carneiro Campos é escritor – mesmo sem um romance ou um livro de poemas. Sempre aos domingos é dia de ler Renato. Mesmo que a crônica não esteja nos jornais a lembrança de suas palavras me tornam mais humano.                                                                                              
De minha parte, porém, sempre tenho a sensação de fracasso. Pergunto-me o que estou fazendo por aqui para que me chamem de escritor. É elogio ou insulto? Seriedade ou ironia? Não sei bem. Tenho muitos livros publicados, algumas traduções, motivo de mestrados e doutorados, sim, isso me torna um escritor? Sou capaz de entender um único ser humano? Posso transcender o espírito contemporâneo? Sou capaz de compreender o mendigo que cospe na calçada? Sou capaz de perdoar o insulto? Uma página minha pode acalmar a alma atormentada? Muitas vezes não quero acalmar, quero desesperar.         
Dizem os russos que Dostoiévski chegou perto de Deus. Não, eu não espero chegar perto de Deus. Seria estupidez demais. Bastaria sarar as chagas do mais coitado dos pobres mortais. Bastaria? Vejam que falsa humildade. Mas é assim que vejo o escritor. Capaz de estancar o sangue em hemorragia perpétua, de sarar a dor social dos humildes e derrotados, de alterar a rota da sorte. Sem dúvida dirão de mim que sou louco, estúpido, idiota. Mas preciso mudar o destino, para então me sentir escritor. E é isso, é isso que exijo de todos. Talentosos e não talentosos. Inspirados e não inspirados. Se é que existem mesmo talento e inspiração. Tudo que não presta é escrito em nome do talento e da inspiração. Ahhhhhhh…                                                                 
Por Raimundo Carrero
Publicado originalmente pelo Diário de Pernambuco, 11/01/16.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O AMOR PSICÓRDICO DE ADÉLIA, poema de Talis Andrade


Continha teu amor o ar tristonho
das cousas rotineiras
Um par de fronhas antigas
onde você bordou nossos nomes
com pontos cheios de suspiros

Querias o amor eterno
meu eu prisioneiro
os pés acorrentados
as algemas das almas gêmeas

Havias planejado
envelhecermos juntos
nossos corpos enterrados juntos
na paz dos campos gerais
à sombra de um umbuzeiro
árvore sagrada
sempre verdejante

Eu queria o velo de ouro
andar outras terras outros mares
a carteira de aventureiro
o andejar vagamundo o amor
inconsequente e passageiro




Visitem os blogs do poeta: 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

SEREI SOLDADO, CONTRA A MONARQUIA DE MORO, poema de Itárcio Ferreira



Estou pronto para a luta,
a luta a(r)mada.
Cinquenta e três anos,
de indignação e álcool,
são um fermento e tanto.

O recado está dado.
Convoquem-me, sou soldado.
Convoco-vos!

Não tenho armas senão as palavras,
o coração, a vontade e as mãos,
que mesmo limitadas pela pólio
têm sede de justiça.

Faltam-nos alimentos e munição? Mas,
sobram-nos a vontade e a fraternidade.
O homem não vive só de pão,
- embora sem o pão morra -
mas, também de poesia e sonho.

O sonho é a matéria mais importante do universo.
Na luta, nos superamos, somos a maioria.
Um irmão mais um irmão,
um operário mais um operário,
um injustiçado mais um injustiçado,
são sempre mais que dois.

Eles têm medo, e nós não.
Os burgueses, os militares – não nacionalistas –, os rentistas,
Tremem diante da multidão.

Os reis tremem e são guilhotinados.
Os banqueiros fogem feito cães.
Os militares nacionalistas, diante da luta justa,
reforçam nossas trincheiras.
Não ter medo da morte é uma vantagem
para quem só pensa nas recompensas
do dinheiro e do poder.

O canto está cantado.
O poema está feito.
Estamos todos alertas!
Os líderes são os trabalhadores explorados.
Avente exércitos!
Tentaremos, mais uma vez e sempre,
enquanto sonhos existirem,
mesmo que uma nova derrota adie o novo mundo socialista:
que os fascistas não passem.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

The Beatles - A Day In The Life

PARA TODOS, TODAS LUTO- LU-TO, poema de Jessica Bernardo


À Amarildo
Claudia
Davi
Eduardo...

Mortos
Dilaceradxs
Machucadxs
Torturadxs

À todos os jovens negros, negras
da periferia
mortos
inocentemente

à todos,
à todas
Aos que tem
pena de vida.

Á todos, todas,
silenciados
não noticiados
injustiçados

á todos, todas: LUTO.
Luto, para que
enquanto classe
sejam vingados.


Visitem o blog da autora: Há Flores

CERVANTES VIVESSE HOJE, poema de Itárcio Ferreira



Cervantes vivesse hoje,
e Dom Quixote
montado em seu Bucéfalo,
- ao fundo, Sancho Pança,
as mãos cobrindo os olhos
de medo e pavor –
a lança em riste do cavaleiro
investiria contra os aparelhos de televisão?
Ou cooptado
estrelaria uma trama das oito?




Visitem o blog do poeta: Itárcio Ferreira, poemas

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Agora um poema

 

Vista a velha roupa e vá comprar um novo livro, poema de Cristina Peri Rossi


"Me chamam de um editorial
e me pedem que escreva
cinco folhas sobre a necessidade da leitura

Não pagam muito bem
e quem poderia pagar bem por um tema desses?
mas de qualquer maneira
preciso do dinheiro

assim que ligo meu computador começo a pensar
sobre a necessidade da leitura
mas não me ocorre nada

é algo que seguramente sabia quando era jovem
e lia sem parar
lia na Biblioteca Nacional
e nas bibliotecas públicas

lia nos cafés
e nas consultas ao dentista

lia no ônibus e no metrô

sempre andava olhando os livros

e passava as tardes nos sebos
até ficar sem um tostão nos bolsos

tinha que voltar para casa a pé

por ter comprado um Saroyan ou uma Virginia Woolf

Então os livros pareciam a coisa mais importante da vida

fundamentais

eu não tinha sapatos novos
mas não me faltava um Faulkner ou um Onetti
uma Katherine Mansfield ou uma Juana de Ibarbourou

hoje os jovens estão nas discotecas
não nas bibliotecas

eu fiz uma bela coleção de livros
ocupavam toda a casa

tinham livros em toda parte
menos no banheiro

que é o lugar onde estão os livros
da gente que não lê

as vezes tinha que seguir durante muito tempo
as pegadas de um livro que tinha saído no México
ou em Paris

uma longa pesquisa até consegui-lo

Nem todos valiam a pena
é verdade
mas poucas vezes me enganei
tive meus Pavese meus Salinger meus Sartre meus Heidegger
meus Saroyan meus Michaux meus Camus meus Baudelaire
meus Neruda meus Vallejo meus Huidobro
para não falar dos Cortázar ou dos Borges
sempre andava com anotações nos bolsos
dos livros que queria ler e não encontrava
ali andavam os Pedro Salinas e os Ambrose Bierce
a infame turba de Dante
mas agora não saberia dizer pra que maldita coisa
serve ter lido tudo isso

mais que para saber que a vida é triste

coisa que poderia saber sem precisar tê-los lido

Depois de cinco horas eu ainda não tinha escrito
uma só linha
assim que comecei a escrever esse poema
Chamei os do editorial
e disse creio que a única coisa para que serve
a leitura
é para escrever poemas

não posso dizer mais que isso

então me disseram que um poema não servia,
que precisavam de outra coisa."


Tradução Nina Rizzi 
Texto Daqui oh e Daqui uh 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

CARLOS MAIA: "Primavera no ar... O orvalho ainda gotejando"


Lindo rosto angelical
Em transe pela manhã,
Manhã de sol, filtrado
Entre as folhas e flores
Do quintal.
Primavera no ar...
O orvalho ainda gotejando
Nas pétalas das rosas,
Manhã
De anjos alegres e travessos
Que brincam no quintal
Sobem nas mangueiras
E fazem carinho
Neste teu rosto lindo,
Neste sol dos teus olhos!
Ah!...
Vem pra cá,
Senta na grama
E deixa eu deitar
Minha cabeça
No teu colo!


Carlos Maia

Quantos universos existem?

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O fato de ninguém saber a resposta para esta pergunta é o que a torna excitante. A história da Física tem sido de compreensão, continuamente crescente, da imensa escala da realidade. Chegamos ao ponto em que os físicos estão agora a postular que talvez possa haver muitos mais universos para além do nosso. Chris Anderson explora as implicações emocionantes desta ideia.

Às vezes, quando estou em um longo voo, contemplo todas aquelas montanhas e desertos e tento entender como a Terra é vasta. E então me lembro de um objeto que vemos todos os dias, em que caberiam, literalmente, um milhão de Terras.

O sol parece incrivelmente grande, mas no grande esquema das coisas, é uma picada de agulha. Uma de 400 bilhões de estrelas da Via Láctea, que você pode ver como uma névoa branca e pálida através do céu em uma noite clara. E fica pior.

Talvez haja 100 bilhões de galáxias detectáveis por telescópio, então, se cada estrela fosse do tamanho de um grão de areia, só a Via Láctea teria estrelas suficientes para encher de areia uma faixa de praia de 9 x 9m e 90cm de profundidade. E não há na Terra praias o suficiente para representar todas as estrelas do universo. Tal praia continuaria por literalmente centenas de milhões de quilômetros.

Santo Stephen Hawking, é muita estrela! Mas ele e outros físicos, agora, acreditam em uma realidade inimaginavelmente maior. Quero dizer, as 100 bilhões de galáxias ao alcance de nossos telescópios são provavelmente uma minúscula fração do total.

O próprio espaço está se expandindo em um ritmo acelerado. A grande maioria das galáxias está se separando de nós tão rapidamente que, talvez, a luz delas nunca nos alcance. Ainda assim, nossa realidade física aqui na Terra está intimamente conectada a essas galáxias distantes e invisíveis.

Podemos pensar nelas como parte do nosso universo. Elas formam um edifício único e gigante, obedecendo às mesmas leis físicas e são feitas dos mesmos tipos de átomos, elétrons, prótons, quarks e neutrinos, dos quais somos feitos você e eu.

Contudo, teorias recentes na física, incluindo a chamada teoria das cordas1, estão nos dizendo que podem existir outros incontáveis universos, construídos por diferentes tipos de partículas, com diferentes propriedades, obedecendo à diferentes leis. A maioria desses universos nunca poderiam sustentar vida, e poderiam existir e inexistir em um nanosegundo, mas, combinados, formam um vasto multiverso de possíveis universos, em até 11 dimensões, exibindo maravilhas além da nossa mais louca imaginação. E a principal versão da teoria das cordas prediz um multiverso constituído de 10 elevado a 500 universos.

É um 1 seguido de 500 zeros, um número tão vasto que se cada átomo em nosso universo observável tivesse seu próprio universo e todos os átomos em todos esses universos tivessem seus próprios universos, e você repetisse isso por mais dois ciclos, ainda teria uma ínfima fração do total chamada, um trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilhão de trilionésimo.

Mas mesmo este número é minúsculo comparado a outro número: infinito. Alguns físicos pensam que o contínuo espaço-tempo é literalmente infinito, e contém um número infinito dos chamados 'universos de bolso' com propriedades variáveis.

E seu cérebro, como está? Mas, a teoria quântica acrescenta um novo desdobramento. Quero dizer, ficou provado que a teoria é verdadeira, mas é desconcertante interpretá-la.

E alguns físicos pensam que você só consegue entendê-la se imaginar que um número imenso de universos paralelos esta surgindo a todo instante, e muitos desses universos seriam bem parecidos com o mundo em que vivemos, incluindo múltiplas cópias de você mesmo. Em um universo assim, você se formaria com honras e casaria com a pessoa dos nossos sonhos. Em um outro, não seria bem assim. 

Há, ainda, alguns cientistas que diriam: que bobagem. A única resposta significativa para quantos universos existem é: um, somente um universo. E uns poucos filósofos e místicos podem argumentar que até o nosso próprio universo é uma ilusão. Portanto, como pode ver, não há consenso sobre esta questão, não há mesmo. O que sabemos é: a resposta está entre zero e infinito.

Bem, penso que sabemos uma coisa: É uma época bem legal para estudarmos física. Podemos estar passando pela maior mudança de paradigma no conhecimento já vista pela humanidade.


domingo, 24 de janeiro de 2016

Conselhos para novos escritores: Stephen King

Stephen King


É fato público e conhecido que Stephen King é um dos escritores mais prolíficos de nosso tempo. Ele escreve histórias que cativam – ou assustam – milhões de pessoas ao redor do mundo e ganha por volta de incríveis 17 milhões de dólares por ano em direitos autorais – minha nossa é dinheiro para ca***** -.

Conhecido por ser o mestre do terror na atualidade, King é autor dos clássicos modernos do gênero como: O Iluminado, Carrie a Estranha, Sombras da Noite, Tripulação de Esqueletos e etc. Note que muitos de seus trabalhos – para não dizer todos, pois não sei o número exato – foram transformados em filmes ou séries de televisão. Mas não se engane, ele também escreveu obras belíssimas, que também viraram filmes igualmente belos, fora do terror, tais quais A Espera de um Milagre (The Green Mile) e Um Sonho de Liberdade (Shawshank Redemption). Para aqueles que classificam o terror como um subgênero e desprezam seus autores, até que os últimos dois títulos impressionam, não é?

Em seu livro autobiográfico, Sobre a Escrita, King compartilha máximas e conselhos sobre a arte de escrever. E ele não adoça o tema em declarações como esta: “Não posso me sentar e dizer que não existem maus escritores. Desculpe, mas há muitos maus escritores.”.

Não quer ser um deles? Aqui estão 22 conselhos encontrados no livro de King, Sobre a Escrita, de como melhorar a escrita:

1.  Pare de assistir televisão. Ao invés disso, leia o quanto for possível

Se você está apenas começando como escritor, sua televisão deve ser a primeira a ir embora. “É venenosa para a criatividade”,  afirma o autor. “Escritores precisam olhar para si próprios e se virar para a vida da imaginação”.
Para tanto, devem ler o quanto podem. King leva um livro consigo a qualquer lugar, e até lê durante as refeições. “Se você quer ser escritor, deve fazer duas coisas acima de todas as outras: ler muito e escrever muito”, diz. “Leia amplamente e trabalhe continuamente para refinar e redefinir seu próprio trabalho”.

2. Prepare-se para mais falhas e críticas do que imagina saber lidar

King compara escrever ficção com cruzar o Oceano Atlântico numa banheira, porque em ambos “há muita oportunidade para dúvidas sobre si. Não apenas você vai duvidar de si, mas outras pessoas também. Se você escreve (ou pinta ou dança ou esculpe ou canta, suponho), alguém vai tentar te fazer se sentir mau sobre isso, é tudo”.
“Constantemente, você tem de continuar escrevendo mesmo quando não se sente bem com isso. Parar um trabalho apenas por ser difícil, emocionalmente ou imaginativamente, é uma má ideia”, ele conta. E quando você falha, King sugere se manter positivo. “O otimismo é uma resposta legítima e perfeita à falha”.

3. Não desperdice tempo tentando agradar pessoas

De acordo com King, rudeza deve ser a menor das suas preocupações. “Se você pretende escrever tão verdadeiramente quanto pode, seus dias de uma sociedade polida estão contados de qualquer modo”. Ele costumava ter vergonha do que escreveu, especialmente após receber cartas raivosas o acusando de ser fanático, homofóbico, assassino e psicopata.
Por seus 40 anos, ele percebeu que todo escritor decente foi acusado de ser um desperdício de talento. King definitivamente se ajeitou com isso. Ele conta: “Se você desaprova, só posso encolher meus ombros. É o que tenho. Você não pode agradar todos os seus leitores o tempo todo”. Então, King aconselha que pare de se preocupar.

4. Escreva primeiramente para si mesmo

Você deve escrever porque isso te traz prazer. “Eu fiz pelo puro prazer. Se você pode escrever por prazer, pode fazer isso para sempre”, afirma ele.
O escritor Kurt Vonnegut ofereceu um conselho parecido: “Encontre um assunto com o qual você se importe e sinta em seu coração que outros deveriam se importar. É esse cuidado genuíno, não são seus jogos de linguagem que serão o elemento mais sedutor de seu estilo”.

5. Enfrente coisas que são mais difíceis de escrever

“As coisas mais importantes são as mais difíceis de dizer”, diz King. “São delas que você se envergonha porque as palavras diminuem seus sentimentos.” Muitos grandes trabalhos escritos vieram após horas de pensamento. Na cabeça de King. “A escrita é um pensamento refinado”.
Ao enfrentar tarefas difíceis, tenha certeza de que está cavando fundo. “Histórias são coisas encontradas, como fósseis no solo… são relíquias, parte de um mundo pré-existente não descoberto”. Escritores devem ser como arqueologistas, escavando o quanto puderem encontrar para uma história.

6. Quando estiver escrevendo, se desconecte do resto do mundo

“A escrita deve ser uma atividade totalmente íntima. Ponha sua mesa no canto do quarto e elimine todas as distrações possíveis – de telefones a janelas abertas.”
Mantenha total privacidade entre você e seu trabalho. Escrever o primeiro rascunho “completamente cru, que me sinto livre para fazer com a porta fechada”. É a história despida, apenas de meias e cuecas.

7. Não seja pretensioso

“Uma das piores coisas que você pode fazer para a sua escrita é enfeitar o vocabulário, procurar por palavras longas apenas por um pouco de vergonha das suas curtas”, afirma King. Ele compara esse engano a vestir um animal de estimação em roupas de entardecer – tanto o animal quanto o dono ficam envergonhados, porque é completamente excessivo.
Como David Ogilvy, grande ícone no mundo dos negócios, disse em uma carta a seus empregados: “Nunca usem jargões como recontextualizar, desmassificar, atitudinal, julgamental. São marcas de um imbecil pretensioso. Além disso, não use símbolos exceto quando necessário. O simbolismo existe para adornar e enriquecer, não para criar um senso artificial de profundidade” diz Stephen.

8. Evite advérbios e parágrafos longos

Como Stephen King enfatiza diversas vezes em seu livro, “o advérbio não é seu amigo”. “A estrada para o inferno está pavimentada com advérbios”, ele crê e os compara a dentes-de-leão que arruínam seu gramado. Os advérbios são piores depois de “ele disse”, “ela disse” – essas frases ficam melhores sem adornos.
Você também deve prestar atenção em seus parágrafos, para que fluam com as voltas e com o ritmo de sua história. “Parágrafos são quase sempre tão importantes como parecem, quanto pelo que dizem”.

9. Não seja apegado demais a gramática

De acordo com King, escrita é primeiro sobre sedução e não sobre precisão.
“A linguagem nem sempre precisa usar gravata e sapatos de laço. O objeto da ficção não é a certeza gramatical, mas sim fazer o leitor se sentir bem-vindo e o contar uma história. Você deve se esforçar em fazer a pessoa se esquecer de que está lendo uma. ”

10. Aprenda a arte da descrição

“A descrição começa na imaginação de quem escreve, mas deve terminar na de quem lê”. A parte importante não é escrever o suficiente, mas limitar o quanto será dito. Visualize a experiência que você quer proporcionar a quem lê, e então traduza o que vê em mente em palavras na página. Você precisa descrever coisas “de maneira a fazer o leitor sentir formigamentos”.
A chave para uma boa descrição é a clareza, tanto na observação quanto na escrita. Use imagens limpas e vocabulário simples para não cansar quem lê. “Em muitos casos, quando a pessoa põe a história de lado é porque ficou chata, e essa chatice veio porque o escritor se encantou com seus poderes descritivos e perde a vista de sua prioridade, que é manter a bola rolando”.

11. Não dê muitas informações de pano de fundo

“Você precisar se lembrar de que há uma diferença entre palestrar sobre o que sabe e usar seu conhecimento para enriquecer a história. Esta é ótima, aquela não”. Certifique-se de incluir detalhes apenas para mover a história adiante e persuadir a pessoa a continuar lendo.
Caso precise pesquisar, faça com que não encubra a história. A pesquisa deve se incluir nela “tão longe como um pano de fundo ou entrelinhas que você precisar”. Você pode se sentir envolvido pelo que aprende, mas os leitores vão se importar muito mais com suas personagens e enredo.

12. Conte histórias sobre o que as pessoas realmentefazem

“A má escrita é um problema de sintaxe e observação culposa. Geralmente, vem de uma recusa teimosa em contar histórias sobre o que as pessoas realmente fazem – encarar o fato, digamos, que as vezes um assassino ajuda uma senhora a atravessar a rua”. As pessoas nas suas histórias são os aspectos com os quais seu leitores mais irão se importar, e você deve se certificar de toda a dimensão das suas personagens.

13. Arrisque-se, não há jogo seguro

Primeiro e mais importante: pare de usar a voz passiva. É o maior indicador de medo. “Estou convencido de que o medo é a raiz de muitas más escritas”, diz Stephen King. Escritores devem jogar os ombros para trás, esticar as canelas e pôr a escrita a serviço.
“Tente qualquer coisa que goste, não importa quanto entediantemente normal ou ultrajante. Se funciona, ótimo. Se não, jogue fora.”

14. Entenda que você não precisa de drogas para ser um bom escritor

“Afirmar que esforço criativo e substâncias de alteração mental estão entrelaçados é um dos grandes mitos pop-intelectuais do nosso tempo”. Aos olhos de King, escritores usuários de drogas são apenas usuários. “Alegar que drogas e álcool são necessários para aflorar uma sensibilidade refinada é apenas um self-service de besteira”.

15. Não tente roubar a voz de outra pessoa

“Você não pode mirar um livro como um míssil”, afirma Stephen King. Quando você tenta imitar o estilo de outro escritor por qualquer motivo, você não produz nada além de imitações pálidas. Afinal, você nunca deve tentar reproduzir a maneira que alguém se sente e experimenta algo, principalmente sem prestar atenção a uma profunda análise de vocabulário e enredo.

16. Entenda que a escrita é uma forma de telepatia

“Todas as artes dependem de telepatia em algum grau, mas acredito que a escritá é pura destilação”, diz King. Um elemento importante da escrita é a transferência. Seu trabalho não é escrever palavras na página, e sim transferir ideias dentro da sua mente nas cabeças dos leitores.
“Palavras são apenas a mídia pela qual a transferência acontece”. Em seu conselho de escrita, Kurt Vonnegut também recomenda que escritores “usem o tempo de um total estranho de maneira que a pessoa não sinta ter desperdiçado tempo”.

17. Leva sua escrita a sério

“Você pode se aproximar do ato de escrever com nervosismo, empolgação, esperança ou desespero”, afirma King. “Faça isso de alguma maneira, mas de leve”. Se você não quer levar sua escrita a sério, ele sugere que você feche o livro e faça outra coisa.
Como a escritora Susan Sontag disse: “A história deve atingir um nervo – em mim. Meu coração deve parar de bater quando ouço a primeira linha em minha cabeça. Eu começo a tremer nesse risco”.

18. Escreva a cada dia

“Assim que começo um projeto, eu não paro e não desacelero a menos que eu absolutamente precise”, conta Stephen. “Se eu não escrevo todo dia a personagem começa a mofar em minha mente… começo a perder meu controle sobre o enredo e o ritmo”.
Se você falha em escrever diariamente a empolgação com a ideia pode começar a sumir. Quando o trabalho começa a parecer um trabalho, King descreve esse momento como “o beijo da morte”. O conselho dele é escrever uma palavra de cada vez.

19. Termine seu primeiro rascunho em três meses

King gosta de escrever 10 páginas por dia. Em um prazo de três meses, isso soma em torno de 180.000 palavras. “O primeiro rascunho de um livro – mesmo dos longos – não deve demorar mais de três meses, o tempo de uma estação”. Se você passa tempo demais em uma peça, King acredita que a história começa a ter uma sensação estrangeira.

20. Quando terminar de escrever, dê um longo passo para trás

King sugere seis semanas de “tempo de recuperação” após terminar a escrita. Assim, você pode ter a mente limpa para perceber quaisquer buracos no enredo ou no desenvolvimento da personagem. Ele afirma que a percepção original de uma personagem pelo autor pode ser tão faltosa quanto a do leitor.
Ele compara a escrita e a revisão com a natureza. “Quando você têm de escreve um livro, investe dia após dia escaneando e identificando as árvores. Quando termina, tem de dar um passo para trás e olhar a floresta”. Quando você encontra seus enganos, ele diz que “você está proibido de se sentir depressivo sobre eles ou de se bater. Confusões acontecem aos melhores de nós”.

21. Tenha coragem de cortar

Durante a revisão, escritores constantemente tem a dificuldade de abandonar palavras que eles escreveram por tanto tempo. Mas, como King aconselha, “mate suas queridas, mesmo quando isso quebra seu pequeno coração de escriba egocêntrico, mate suas queridas palavras”.
Apesar da revisão ser uma das partes mais difíceis da escrita, você precisa abandonar as partes chatas para avançar na história. Em seus conselhos sobre escrita, Kurt Vonnegt diz: “Se uma sentença, não importa quão excelente ela seja, não ilumina o assunto de maneira nova e útil, corte-a.”

22. Permaneça casado, seja saudável, tenha uma boa vida

King atribui seu sucesso a duas coisas: sua saúde física e seu casamento. “A combinação de um corpo saudável e um relacionamento estável com uma mulher auto-confiante que nada toma de mim ou de outra pessoa possibilitou a continuidade da minha vida profissional”, ele conta.
É importante ter um bom equilíbrio em sua vida para que a escrita não consuma tudo dela. Nos 11 “mandamentos da escrita” do pintor e autor Henry Miller, ele aconselha: “se mantenha humano! Veja pessoas, vá a lugares, beba se sentir-se bem para isso”.

sábado, 23 de janeiro de 2016

BANDEIRA DA AURORA, Poema de Aldo Lins






Contemplo a arquitetura da Aurora
Recreio dos pássaros da Boa Vista
Do seu cais palco sempre dourado
E de museus falando as suas horas.

Aurora musa dos sonhos de Bandeira
Mãe de tantos andarilhos girassóis
Plataforma de olhares impassíveis
Transmutados pelo pão de cada dia.

Aurora monumento à liberdade
Descortina o Palácio das Princesas
E acolhe os eternos namorados
Embriagados com a lua do seu rio.

Quisera eu aqui ter vivido
A aurora azul da minha vida
Nesta via de perfeita geometria
Entre a fumaça e névoa da cidade.