Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

domingo, 24 de dezembro de 2017

Oração ao deus nosso criador


Obrigado, Senhor, por não interferir:

- quando milhares de pessoas morrem de fome, de frio, de doenças e de maus tratos todos os dias no mundo;

- nas guerras que já mataram milhões em teu nome;

- nas catástrofes naturais que exterminam os que não te veneram, juntamente com quem acredita em ti e te ama, e confia que tu irá livrá-los do mal;

- na violência desmedida contra os indefesos e humildes, que só têm a ti para pedir proteção;

- nas mortes, depois de meses em agonia, dos que sofrem de doenças incuráveis (mesmo se tiverem orado a ti para minorar sua dor, ou antecipar seu próprio fim);

- no abuso físico, psicológico e sexual de inocentes por aqueles que usam teu nome para adquirir poder e respeito entre os homens;

- e, finalmente, obrigado, Senhor, por ter arquitetado essa “gincana” em que bilhões e bilhões de seres humanos, durante milhões e milhões de anos, tiveram que superar todo tipo de desafio — contra animais selvagens, contra o clima, contra as catástrofes naturais, contra doenças, contra pragas, contra outros grupos rivais — para poder sobreviver neste planeta, e isso apenas para o Senhor poder escolher a quem premiar e a quem condenar no final.

Espero que o Senhor esteja se divertindo bastante.

Amém!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

1º. Poema avistado no Velho Chico – Piranhas-AL, poema de José Maria Almeida Marques


Velho Chico, velho Chico
Águas tomadas de Minas
Dessa Grota de Angicos
Donde veio d’água mina
Comparo o teu destino
Ao do Capitão Virgulino.
Sentei-me na pedra fria
Que de sangue foi lavada
Vi Lampião vi, Maria
Suas cabeças cortadas
Retirem-me a poesia
A eles fico igualado.
Capitão és Pancho Villa
Com teu chapéu estrelado
Naquela loca de pedra
Morreste como Guevara
Tirem-me Manuel Bandeira
E fico assim de nonada.
Aqui da Pedra do Sino
Vejo o Rio iluminado
Diferente do destino
Do homem e outros gados
Cada qual com suas sinas
Nas veredas já traçadas.
Cânions do São Francisco
Lá na Gruta do Talhado
Rio, sonido de mar
Homens, de secos riachos
As mulheres que amei
Oceano ou fios d’água.
Por todas me apaixonei
Eu, poeta abestalhado
Numas morri de sede
Noutras me fui, afogado
Ó Senhora da Saúde
Acoite os meus pecados.

José Maria Almeida Marques

Maria Alcina - "A Voz do Morto"

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Darkness, poema de Micheliny Verunschk


A solidão,
essa tempestade,
esse gozo às avessas,
esse jeito de eternidade
que as coisas adquirem mesmo sendo apenas vidro.
Essas cartas ardendo
no estômago das gavetas,
essas plumas
que surgem quando se apagam
as últimas luzes do dia.
Tudo faz a noite mais longa,
Visão de uma sombra
Sobre um berço.
Não há resposta
e o labirinto é o falso,
os lábios são falsos,
somente abismo,
absinto verdadeiro.
O sono,
grande placa de cerâmica,
e o tempo,
demônio a ranger sobre o infinito.

Micheliny Verunschk

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A moenda, poema de Da Costa e Silva


Na remansosa paz da rústica fazenda,
À luz quente do sol e à fria luz do luar,
Vive, como a expiar uma culpa tremenda,
O engenho de madeira a gemer e a chorar,
Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
E ringindo e rangendo, a cana a triturar
parece que tem alma, adivinha e desvenda
A ruína, a dor, o mal que vai, talvez, causar…
Movida pelos bois tardos e sonolentos
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos,
Que as desgraças por vir, sabe-as todas de cor.
Ai! Dos teus tristes ais! Ai! Moenda arrependida!
— Álcool! para esquecer os tormentos da vida
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!
Da Costa e Silva

Cartola - "Preciso Me Encontrar"

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O violino, poema de Micheliny Verunschk


Entregue a sutil carícia
da curva do queixo
mal finge
que freme mesmo
é ao balé febril
das pontas dos dedos.
(Talhado em nobre madeira,
o filho de Eros,
é dado ao gozo animal
ao humano sexo…)

Micheliny Verunschk

Tom Jobim e Edu Lobo - "Pra Dizer Adeus"


Composição: Edu Lobo / Torquato Neto

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os dez mandamentos de Osho


Em 1970 perguntaram a Osho pelos seus dez mandamentos. Esta foi sua resposta:

“Você pergunta pelos meus dez mandamentos. Isso é muito difícil, porque eu sou contra qualquer tipo de mandamento. Todavia, só pela brincadeira, eu estabeleço o que se segue:

  1. Não obedeça a ordens, exceto àquelas que venham de dentro.
  2. O único Deus é a própria vida.
  3. A verdade está dentro, não a procure em nenhum outro lugar.
  4. O amor é a oração.
  5. O vazio é a porta para a verdade, é o meio, o fim e a realização.
  6. A vida é aqui e agora.
  7. Viva completamente acordado.
  8. Não nade, flutue.
  9. Morra a cada momento para que você possa se renovar a cada momento.
  10. Pare de buscar. O que é, é: pare e veja.”

Cartola - "Alvorada"

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Se o poeta falar num gato, poema de Mario Quintana


Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade…
se falar numa esquina mal e mal iluminada…
numa antiga sacada… num jogo de dominó…
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade…
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol…
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá… Que importa?
Todos os poemas são de amor!

Mario Quintana