O dossel do rio se
rompeu: os derradeiros dedos das folhas
Agarram-se às
úmidas entranhas dos barrancos. Impressentido,
O vento cruza a
terra estiolada. As ninfas já partiram.
Doce Tâmisa, corre
suave, até que meu canto eu termine.
O rio não suporta
garrafas vazias, restos de comida,
Lenços de seda,
caixas de papelão, pontas de cigarro
E outros testemunhos
das noites de verão. As ninfas já partiram.
E seus amigos, os
ociosos herdeiros de magnatas municipais,
Partiram sem deixar
vestígios.
Às margens do Léman
sentei-me e lá chorei . . .
Doce Tâmisa, corre
suave, até que meu canto eu termine,
Doce Tâmisa, corre
suave, pois falarei baixinho e quase nada te direi.
Atrás de mim,
porém, numa rajada fria, escuto
O chocalhar dos
ossos, e um riso ressequido tangencia o rio.
Um rato rasteja
macio entre as ervas daninhas,
Arrastando seu
viscoso ventre sobre a margem
Enquanto eu pesco no
canal sombrio
Durante um
crepúsculo de inverno, rodeando por detrás o gasômetro,
A meditar sobre o
naufrágio do rei meu irmão
E sobre a morte do
rei meu pai que antes dele pereceu.
Brancos corpos nus
sobre úmidos solos pegajosos
E ossos dispersos
numa seca e estreita água-furtada,
Que apenas vez por
outra os pés dos ratos embaralham.
Atrás de mim,
porém, de quando em quando escuto
O rumor das buzinas
e motores, que trarão na primavera
Sweeney de volta aos
braços da Senhora Porter.
‘Ó a Lua que
luminosa brilha
Sobre a Senhora
Porter e sua filha, ambas
A banhar os pés em
borbulhante soda.’
Et O ces voix
d’enfants chantant dans la coupole!
(Trecho)
T. S. Eliot
Tradução de Ivan Junqueira