Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Latinoamérica, poema de Marcus Accioly

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Round 22 

Fórceps


madre América minha (minha madre)

às vezes no teu seio (quando sofro

por coragem não ter de ser covarde)

ânsias sinto de estar ou ser de novo

no teu útero (sim) na intimidade

capaz de me fechar (como em um ovo

dentro de ti) por isso é natural

que me coloque em posição fetal 



(sim) encolho meu peito até os joelhos

puxados com os dois braços (sem falar

vou boiando das chamas dos teus pêlos

ao teu ventre redondo feito o mar)

nado em tua placenta onde os vermelhos

lençóis do sangue tentam me dobrar

em suas dobras (madre) e sou o filho

que religa o cordão ao próprio umbigo 



(ai quando o pensamento cega o sonho

ou o sonho quer mentalizar o mundo)

quando eu me reconheço tão estranho

que fecho os olhos para ver mais fundo

(madre minha) eu me curvo enquanto ponho

toda a cabeça em tua vulva e afundo

(à semelhança do avestruz) por dentro

do fim e do começo do teu centro 



(em ti posso esconder-me de mim mesmo)

sou o menino que era no teu colo

(mas perdeu a saúde e está enfermo

de tanto suplicar o teu consolo)

eu quero ser (mesmo empurrado a ferro

como um bolo-de-carne ou feito um rolo-

de-sangue) igual a um feto que se esforce

a entrar em ti sob invertido fórceps