Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ORTOPOEMA , poema de João Francisco Lima Santos



Tenho
dentes tortos,

corrigi-los:

Custa
o marfim dos elefantes.

Não vou satisfazer
a tola
estética do mundo.

Quem me ama,
ama e goza
inteira
até com meus dentes tortos.

São tortos,
sim,
como minha infância
torta.

Como torta é a pobreza
que ninguém olha
e segue ela
mastigando a vida.

Iam eles
desalinhando
à medida
que me mandavam engolir
o choro
quente,
pois quentinho já estava
o meu couro.

Antes
de engolir,
eu mastigava com toda raiva
todas as palavras.
que não podiam ser ditas.

Só ditas,
bem ditas,
no baixinho do confessionário.

Lá,
longe do inferno do lar,
eu as vomitava
com medo de viver
dois infernos
paralelos:
o do céu
e o da Terra.