Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Ode ao Céu, poema de Percy Bysshe Shelley

Resultado de imagem
CORO DE ESPÍRITOS:
Cúpula que as nuvens fende!
Éden que áurea luz resplende!
     Infindo, Vasto, Ilimitado,
          És agora e fostes ontem!
     Do presente e do passado
          Do sempiterno Quando e Onde,
               Câmara, santuário, lar,
               Fixo domo a perdurar,
               Dos atos e eras por passar!
Sopras vida a nobres mundos
Que constelam vãos profundos
     E as mais desertas brenhas tuas,
          Que a Terra seguem em sua dança;
     E o alvo e frio cristal das luas;
          E estrelas de fulgente trança;
               E outros mundos verdejantes;
               E, além da noite, os sóis distantes,
               Átomos de luz radiantes.
Até o teu nome é como um deus,
Céu! pois mora em templos teus
     Poderes em que enxerga o homem
          Seu feitio, qual fosse espelho.
     Vêm as gerações, e somem,
          E a ti veneram de joelho.
               Eles mesmos, seu panteão,
               Fugazes, como um rio se vão:
               Persiste — a tua imensidão. —
UMA VOZ MAIS REMOTA:
És um átrio à Mente, apenas,
Aonde sobem ânsias terrenas
     Como insetos numa catacumba,
          Iluminados por sincelos;
     Mas abre um mundo o umbral da tumba,
          De graças que farão singelos
               Teus feitos, mesmo o mais sobejo,
               Não mais que um diurnal lampejo,
               Breve sombra de um ensejo!
UMA VOZ AINDA MAIS ALTA E REMOTA:
Paz! Nascido do átomo, coroas
O abismo em ódio com tais loas!
     Que é o Céu? E o que és e fazes,
          Tu, que herdas sua extensão mais mínima?
     Que são sóis e astros fugazes
          Que o pulso desse Espírito anima,
               Da qual és não mais que uma parte?
               Quinhão que a Natureza comparte
               Pingando em finas veias! Parte!
Que é o Céu? Um globo de orvalho,
Pela aurora a estilar do galho
     No olho de uma jovem flor
          Entre esferas impretensas:
     Intactas nuvens de fulgor,
          Dobram-se órbitas imensas,
               Neste orbe a sucumbir,
               Com outros milhões irão se unir,
               Vibrar, faiscar e então sumir.

Percy Bysshe Shelley
Tradução de Adriano Scandolara