Elis,
Tudo bem. Nenhuma pista sobre tua morte. Tipo crime perfeito. Precisa
ver. Os perplexos seguem as pegadas duma tal fama assassina que devora seus
filhos. Os nascidos nos anos 40 já acham que tá é passando um flautista,
convocando a geração "da gente" (Ri! Ri! Ri!). Os legistas shibatam
tuas vísceras à cata de comprimidos e tóxicos.
Tu despistou todo mundo.
Mas eu, eu encontrei a caixa-preta. E vou dormir:
Nós homens te matamos, mulher.
Você dobrou tua voz e venceu. Dobrou teus negócios e venceu. Dobrou tua consciência
política e venceu.
Quis ser mulher livre e perdeu...
Nós homens te exigimos alta, linda e gostosa. Nós homens te espancamos a
murros e pontapés uma, duas, de dez vezes. Nós homens te obrigamos a lavar
roupa e cozinhar pra nos sustentar. Nós homens te forçamos a se humilhar diante
do teu povo, cantando de joelhos o hino nacional. Aí, nós homens, sem
perguntar, te enterramos no cemitério dos mortos-vivos do Caboco. Mamadô. Nós
homens te exibimos em churrascarias. Nós homens te vestimos de azul, vermelho,
branco, roxo, amarelo, preto e cortamos teu cabelo curtim feito Joana
d"Arc.
E você só queria namorar nós homens.
Mas nós homens não conseguimos namorar uma mulher livre.
Perplexos, quarentões e médicos-legistas!
Podem suspender as diligências.
Tá na caixa-preta:
fomos nós, homens.
Henfil
Sreet