I - O corpo amoroso do deserto
Teu corpo
branco e morno
(que eu deveria dizer sereno)
é para mim suave e doloroso
como as areias cortantes
dos desertos.
Que importa
que ignores minha sede
se tua miragem
é água cristalina?
E a miragem
eu firo com mil línguas
e cada uma
é um pássaro a bebê-la.
Ferroam minha pele
escorpiões de sol
com seu veneno
e vejo,
magoada de desejo
os grãos tão leves
indo embora ao vento.
Teu corpo
branco e morno
(que eu deveria dizer sereno)
é para mim suave e doloroso
como as areias cortantes
dos desertos.
Que importa
que ignores minha sede
se tua miragem
é água cristalina?
E a miragem
eu firo com mil línguas
e cada uma
é um pássaro a bebê-la.
Ferroam minha pele
escorpiões de sol
com seu veneno
e vejo,
magoada de desejo
os grãos tão leves
indo embora ao vento.
II - A presença
dolorosa do deserto
Teu nome
é meu deserto
e posso senti-lo
incrustado
no meu próprio
território
como uma pérola
ou um gesto no vazio
como o amargo azul
e tudo quanto
há de ilusório.
Teu nome
é meu deserto
e ele é tão vasto,
seus dentes tão
agudos,
seus sóis raivosos
e suas letras
(setas de ouro e prata
dos meus lábios)
são meu terço
de mistérios
dolorosos.