Rua de São José - *Imagem daqui
Em 1962 nasci, em Carpina, cidade
da Zona da Mata, no Estado de Pernambuco. Não foi um grande acontecimento; nem
um acontecimento pequeno; foi um acontecimento microscópico. Apenas para os
meus pais, creio, foi um fato relevante. Era um sábado, 17 de novembro, às 16
horas. Sobre este fato escrevi, mais de quarenta anos depois:
“Quando
nasci em Carpina, em 1962,
para
uma vida de merda,[1]
não
havia nenhum anjo safado de plantão,[2]
um
bêbado, um louco e um poeta[3]
então me disseram:
vai,
Itárcio, se fode na vida .[4]”
Com um ano de idade fui acometido
pelo vírus da pólio, que me deixou várias sequelas, no corpo e na alma:
“Com um ano de idade , a
pólio me abraçou
como
uma camisa de força a um louco
e
me deixou sequelas no corpo e na alma.”
A origem dos nomes da minha cidade...
Quando nasci e cresci, na Rua de São José, número 80, Carpina já era Carpina,
desde 1948; antes se chamava Chã do Carpina; depois, por ocasião da revolução
de 1817, Floresta dos Leões. Muito antes do meu nascimento os leões haviam sido
extintos pelos caçadores, interessados por suas peles, dentes e unhas; e
posteriormente, Carpina.
A Praça de São José... Tanto a
praça dos leões quanto a Rua de São José eram para mim as maiores maravilhas do
mundo. Eram gigantes, lindas. Nunca vira monumento ou cidade com tão imensa
beleza a ser descoberta, vivida, sonhada.
A festa de Reis era de uma grandiosidade
que lembrava - lembrava? – as festas pagãs dos antigos povos gauleses, celtas,
indígenas, africanos. Tudo era mágico. As barracas de jogos, as argolas, a
pescaria. Balões que voavam sozinhos, bolas de erva doce, sonhos e mais sonhos.
Minha doença e o tabu de falar com
a família sobre ela... Durante mais de cinquenta anos, nunca tive coragem de
conversar sobre minha doença com os membros de minha família. Para isto havia
inventado uma estória que me satisfazia: dizia às pessoas que me perguntavam se
eu tinha sido vacinado que sim, mas que várias crianças na minha cidade adoeceram,
o que era verdade, e que provavelmente as vacinas haviam sido mal
acondicionadas e estava sem validade, o que era mentira. Na verdade não fui
vacinado.
As férias em Pontas de Pedras...
Pelo menos tive a oportunidade de ter várias férias em Pontas de Pedras, pois o
banho de mar e o sol metabolizavam algo em meu corpo que fizeram que minhas
pernas, as partes do meu corpo mais afetadas, tivessem um crescimento além da
média.
Não encontrei apenas a saúde em
Pontas de Pedra, mas o amor, a diversão, a liberdade e o gosto pela música.
O gosto pela música... Estava à toa
na vida... O amor de Emília... Os banhos de mar... Liberdade e diversão. Saudades
de Pontas de Pedras... Tempos que não voltam mais.
(Itárcio Ferreira)
(Itárcio Ferreira)
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