Vou plantar na varanda
a minha mágoa,
e espero, assim, que a
vida a mim esqueça.
Fluídico e sereno como
as águas
deixem, vocês, que eu
me desapareça.
Vou partir depois
disso, prontos tenho
o passaporte e a blusa
de emigrante.
Deixem vocês, eu parto
como venho
para ser outra vez o
que fui antes,
As lágrimas ardendo
são estrelas
cintilando no fundo de
outro poço.
Vocês não se debrucem
para vê-las
que, nelas, acharão só
meus destroços
(a canção que inventei
de ouvido, inteira,
e as rosas florescendo
nos meus ossos).
Não procurem saber dos
meus intentos,
peço como um favor,
ninguém me ouça,
pois rosário já vem
tangendo os ventos
e apaziguando a minha
carne moça,
vem molhada de luz,
vem sem lamentos,
trazendo um lírio em
suas mãos de louça.
Já é chegada a hora da
partida,
No meu bolso soluça o
coração,
por isso, não liguem
muito à vida
que para olhar e ver,
trago na mão.
Nem olhem, se ainda me
veem, para a ferida
que expõe, aberta, a
minha solidão.
Parto rendido e
entregue aos meus afetos,
e amigos que não
tenho, não terei.
Matei as sempre-vivas
do deserto
recusando as canções
que não criei.
E descobri, sentindo o
amor tão perto,
que nada sou do sonho
que inventei.
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