Tarcísio Pereira, o homem que na década de
1990 conduziu a maior livraria do Brasil, tem o seu perfil publicado pela
Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O título foi escrito pelo jornalista
Homero Fonseca e apresenta a trajetória do livreiro e da icônica Livro 7,
inaugurada no Recife em 27 de julho de 1970 e fechada em 2000. O lançamento
será às 19h de quarta-feira (27/07), no Paço do Frevo, localizado no Bairro do
Recife, e remete à data de fundação da livraria. É aberto ao público, com
apresentação de orquestra de frevo e homenagens de amigos.
“Mesmo sem ter sido um criador de conteúdo,
Tarcísio teve a maior importância na vida cultural de Pernambuco”, destaca
Homero Fonseca, ao falar sobre a publicação Tarcísio Pereira – Todos os livros do
mundo, da Cepe Editora. Ele nasceu em Natal (RN), migrou para o
Recife com a família, ainda adolescente, e morreu em 25 de janeiro de 2021, aos
73 anos, por complicações da covid-19. Na capital pernambucana, também foi
editor e atuou como superintendente de Marketing e Vendas da Cepe.
A publicação, com 308 páginas, traz relatos
de parentes, amigos, ex-funcionários e admiradores do livreiro, que se vestia
de azul da cabeça aos pés. “O homem de azul se tornou a persona de Tarcísio,
isto é, sua imagem pública. Uma imagem que começou espontaneamente, mas logo
seria consolidada numa construção milimétrica. Um conjunto formado por vários
elementos: gosto, comodidade, moda, superstição, marketing”, escreve Homero
Fonseca num trecho do livro.
O trabalho é o resultado de um ano de
pesquisa e estudo, informa o autor, que optou por fazer um perfil biográfico,
“com os rigores possíveis de uma biografia e toques de ensaio jornalístico.” No
livro, ele resgata as origens da família de Tarcísio no interior do Rio Grande
do Norte, os efeitos de ter sido criado numa casa com predominância feminina, o
espírito agregador presente em toda a sua vida, a história da Livro 7, a
vocação de mecenas do movimento cultural do Recife e a troça Nóis Sofre, Mas
Nóis Goza, agremiação carnavalesca da livraria.
“Antes de focar na trajetória pessoal de
Tarcísio Pereira, havia a necessidade incontornável de mostrar o contexto da
época. Contar a trajetória de Tarcísio é contar a história da Geração 68, da
juventude que saiu às ruas no mundo para se expressar”, afirma Homero Fonseca.
A livraria fundada no dia 27 do mês 7 de 1970 por Tarcísio Pereira – integrante
dessa geração e supersticioso com o numeral 7 -, em plena ditadura militar no
Brasil, logo se tornou “um canal de manifestação dessa juventude estudantil
pela cultura”, diz ele.
A Livro 7 surgiu num espaço exíguo no nº 286
da Rua Sete de Setembro, bairro da Boa Vista, Centro do Recife. “Era tão
pequena e tão atulhada de livros que a gente entrava, escolhia um, saía para o
corredor para poder tirar a carteira do bolso da bunda e voltava para pagar no
caixa.” A descrição, reproduzida no livro, é do escritor e dramaturgo Hermilo
Borba Filho (1917-1976). De 1974 a 1978 a Livro 7 funcionou no casarão 307 da
mesma rua e de 1978 a 1998 ocupava um galpão de 1.200 metros quadrados no
imóvel 329, sempre na Sete de Setembro.
No Guinness Book, o livro dos recordes,
apareceu como a maior livraria do Brasil de 1992 a 1996. Frequentada por
intelectuais da direita e da esquerda, era reconhecida como ponto de encontro
dos recifenses. “É célebre a tirada do deputado Ulysses Guimarães, num jantar
após o lançamento do seu livro Rompendo o cerco: Em
Pernambuco, não existem só dois partidos, o MDB e a Arena. Aqui há um terceiro
partido: a Livro 7”, recorda Homero Fonseca numa passagem do livro.
Ao traçar o perfil do livreiro, ele compartilha com os leitores histórias curiosas sobre a vida do menino e do jovem Tarcísio. Também aborda problemas que levaram à falência da livraria: planos econômicos implantados nos anos 1990, a decadência do Centro e a inadimplência de consumidores. “Era uma relação comercial de bodega a que estabeleci com os clientes”, reconhece Tarcísio Pereira, em entrevista concedida dois anos após o fim da Livro 7. Ele pretendia abrir uma livraria no Mercado da Torre, na Zona Oeste do Recife, mas morreu antes, diz Homero Fonseca.