
Frida Kahlo, 1940
Não pedi
para estar aqui. Não pedi para ter consciência de que existo. Acho que esta é a
pior tortura que possa sofrer um humano. Após os 50 anos, o que é o meu caso,
tudo é excesso. Excesso de vida, amor, tristezas e derrotas. Sou um derrotista
campeão. Sempre fico do lado perdedor. Histórias não faltam.
Para não estourar, de repente, em um suicídio
fracassado, sempre busquei as artes e o álcool. Eles têm um quê de alívio que a
tudo supera. As demais tentativas de fuga, fora desta dupla, se mostraram
falhas.
Primeiro casei, aos dezoito anos – antes disto, em
lembranças que não possuo, tive pólio com um ano de idade – tive filhos,
precisei trabalhar cedo, abandonei a música, ainda em aprendizado incipiente –
mas, hoje tenho a consciência da falta de talento, o que diminui minhas dores.
A bebida é uma fuga espetacular, mas o corpo físico
não nos compreende. Talvez por isso aprendi a amar – na verdade não sei o que é
o amor – os livros, os poemas, os romances. Sou, em resumo, um fugitivo, e
enquanto os excessos de anos dão-me vida, diminuo os sofrimentos através dos
livros, pois, covarde para cair fora por conta própria.