Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

domingo, 1 de dezembro de 2013

OS CONSELHOS DE MINHA AVÓ



Minha avó dizia:
Minino, não se brinca com as coisas de Deus,
Pois isto é pecado, e ele castiga,
Castiga, sim Senhor!

Mas sabe como é minino,
Brincalhão, curioso...
E o minino brincou.

Deus passou a ser Sued,
Passou a ser assunto de piadas,
Que eu não resistia, e contava,
E contava, e contava.

Além de outros pecados,
Mais cabeludos, 
Como “bater” punheta,
Pesando na beleza das pernas
Da minha linda professorinha
De letras,
Que um dia nos leu Os meninos carvoeiros,
Do poeta Manuel Bandeira,
Ai, senti tanta dor!

Tudo isso até minino cansar de brincar!
E virar homem...

E um dia, já crescido e cheio de interrogações.
O minino homem pensou,
Lembrando-se das palavras da avó,
Petrificado, com medo, suando:
Será que por que brinquei com deus ele me castigou?

Será por que brinquei com ele,
Deus destruiu o Iraque,
E enforcou o Saddam?

Será por que brinquei com ele,
Deus destruiu a Líbia
E humilhou o Kadafi?

Será que pelos meus pecados
Quer exterminar aos palestinos, como Hitler
Queria exterminar aos judeus
Ou como a Europa quer exterminar aos ciganos?

Deus me perdoa, perdoa, perdoa!
Com todas as forças e fé,
- Fé que não tenho -
Perdoa o minino,
Que não queria tomar banho,
Por que estava jogando bola de gude,
Botão de mesa,
Pinhão ou conversando safadeza
Com outros mininos, amigos de infância,
Que também não ouviam os conselhos das avós.

Foi só uma brincadeirinha de nada,
Coisa de minino safado.

Não deixai mais, deus, pelas minhas faltas e pecados,
E por não seguir os conselhos de minha avó,
Que milhões morram de fome, de sede, de guerras, de doenças, de indiferença...

A mim bastam a pólio e a depressão, além da velhice calhorda,
Que me deixa numa cadeira de rodas,
E o pau, que não quer mais subir!

Apaga, meu anjo da guarda, apaga,
Do teu caderninho,
Os meus pecadinhos de minino,
Por favor, imploro, apaga.

Depois mostra a deus, teu criador,
Que eu não preciso mais ser castigado,
Punido, torturado, enlouquecido,
Pelo dor do meu próximo,
Que eu sei, é culpa minha,
Pelos meus pecados,
Por não acreditar na minha avó!

Santo anjo do senhor,
Meu zeloso guardador,
Interceda por mim,
Pois, com todo o respeito,
Parece que deus, dorme e ronca,
Sobre os vermes que criou.


Itárcio Ferreira

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