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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A beleza do silêncio, segundo os filósofos

Montaigne achava que devíamos ouvir mais que falar
Montaigne achava que devíamos ouvir mais que falar

Como se expressar, seja escrevendo, seja falando? Essa é uma das questões presentes desde sempre para a humanidade.

Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Na vida profissional ou amorosa, numa apresentação de trabalho a seus chefes na empresa ou numa mera conversa de bar, comunicar-se faz bem faz toda a diferença.

Muitos sábios se detiveram nesse tema. Quase todos condenaram a verborragia, a eloqüência desmedida, a suntuosidade verbal.
A opção é pela simplicidade e pela brevidade. Uma pessoa afetada na maneira de falar ou escrever é afetada em outras esferas.
“A verdade precisa falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antigüidade.
Montaigne dedicou linhas brilhantes ao assunto em seus Ensaios.
Montaigne conta duas histórias instrutivas e divertidas. Numa delas, os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderir a um esforço de guerra.
O Espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não lembro do começo nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”.
Na outra história, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A platéia à qual cabia  a escolha ouviu um extenso discurso do primeiro arquiteto.
As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que este acaba de dizer eu vou fazer”.
Montaigne cita seu pensador predileto, o romano Sêneca, segundo o qual nos grandes arroubos da eloqüência há “mais ruído que sentido”.
Escreveu Montaigne: “Gosto de uma linguagem simples e pura, a escrita como a falada, e suculenta, e nervosa, breve e concisa, não delicada e louçã, mas veemente e brusca. Uma linguagem  sem afetação, expressiva em todos os seus aspectos, não uma linguagem pedante, fradesca, ou de advogado, mas de preferência soldadesca como Suetônio qualifica a de Júlio César, embora eu não perceba muito bem por quê”.
Os espartanos eram admirados por Montaigne pela simplicidade com que  viviam e se expressavam.
Ele conta que uma vez perguntaram a uma autoridade de  Esparta por que não colocavam por escrito as regras da valentia para que os jovens pudessem lê-las.
A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens antes aos feitos que às palavras. “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, disse Montaigne.
Outro mestre de Montaigne, Plutarco, autor de Vidas Paralelas, mostrou que falar demais pode ser perigoso. “A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir”, disse Plutarco. “Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza.”
Não falar nada é, não raro, a melhor coisa que temos a dizer, mas uma força irresistível parece sempre nos empurrar para o “mundo da tagarelice” tão bem definido por Montaigne.
E então, estamos condenados a produzir “mais ruído que sentido”, para lembrar a grande tirada de Sêneca.

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