"Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação." (Mário Quintana)
Aos Mestres, com carinho!

Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Site apresenta tesouros do cinema mundial. Legendados e grátis
O surrado chavão sobre o futebol, de que ele é uma caixinha de surpresas, vale perfeitamente para a internet.
Em meio a tanto lixo, tanta porcaria descartável, pode-se encontrar na rede tesouros inimagináveis em todas as áreas do conhecimento humano.
Não é segredo para ninguém que a internet está infestada de obras de arte - e outras nem tanto -, disponíveis para todo mundo.
Milhares de livros, filmes e músicas, por exemplo, podem ser usufruídos livremente.
É só procurar.
O problema é que a maior parte desse material é pirateado, ou seja, não paga direitos autorais, e assim corre o risco de sumir da rede de um dia para outro, se a burla for descoberta.
O Youtube está coalhado de filmes de todos os tipos, anos e gêneros, alguns até em bom estado, outros nem tanto.
Para quem tem tempo livre para fuçar o quase inesgotável arquivo do site e não se importa com essa questão de direitos autorais, o Youtube é uma mina de ouro.
Mas ele não funciona para o cinéfilo interessado em obras de arte, aquelas que realmente contam para a evolução da linguagem cinematográfica.
Para esses, foi lançado no começo do ano um site que deve virar referência no assunto, o Cinema Libre, que já tem um acervo de 300 filmes em domínio público, legendados, muitos deles joias raras.
O responsável pelo Cinema Libre é Lucas Bombonatti.
Ele conta que a ideia de criar o site partiu "da busca por uma alternativa à pirataria, que infelizmente tornou-se a única maneira de ter acesso a certos filmes, pois a distribuição de filmes antigos é muito ruim".
Segundo Lucas, o Cinema Libre tem a intenção de proporcionar "um espaço para filmes antigos sem que se esteja passando por cima dos direitos de seus autores".
Nesse seu trabalho, ele recebe a ajuda de amigos e familiares para encontrar os filmes e colocá-los à disposição do público, "sendo que grande parte já está no Youtube", diz.
Lucas informa ainda que boa parte do acervo do Cinema Libre já está disponível na internet.
"A dificuldade maior é com as legendas, que são raras e muitas vezes difíceis de encontrar. Alguns filmes sequer possuem legendas em português e isso acaba gerando alguns empecilhos e assim alguns filmes estão na lista de espera", afirma.
Lucas está se dedicando agora a montar uma equipe para poder levar mais inovações ao site e também aumentar o seu acervo.
O cinéfilo que acessar o Cinema Libre pode ter um ataque do coração, ao encontrar desde as primeiras produções, datadas do fim do século XIX, a obras-primas da era do cinema mudo e das décadas de 30 e 40, além de filmes brasileiros que muitos julgavam perdidos.
Está tudo lá.
Só vendo para acreditar.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Para os Mestres, com desrespeito

Dizem que meu povo
é alegre e pacífico.
Eu digo que meu povo
é uma grande força insultada.
Dizem que meu povo
aprendeu com as argilas
e os bons senhores de engenho
a conhecer seu lugar.
Eu digo que meu povo
deve ser respeitado
como qualquer ânsia desconhecida
da natureza.
Dizem que meu povo
não sabe escovar-se
nem escolher seu destino.
Eu digo que meu povo
é uma pedra inflamada
rolando e crescendo
do interior para o mar.
é alegre e pacífico.
Eu digo que meu povo
é uma grande força insultada.
Dizem que meu povo
aprendeu com as argilas
e os bons senhores de engenho
a conhecer seu lugar.
Eu digo que meu povo
deve ser respeitado
como qualquer ânsia desconhecida
da natureza.
Dizem que meu povo
não sabe escovar-se
nem escolher seu destino.
Eu digo que meu povo
é uma pedra inflamada
rolando e crescendo
do interior para o mar.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
sábado, 25 de outubro de 2014
Brigitte Bardot, o poema
Encontrar uma lâmpada mágica
Numa loja de antiguidades
Na minha cidade da infância
Implorar ao gênio moreno
Um único desejo apenas
Ao invés dos três oferecidos:
Acordar no colo quente e
macio da Brigitte Bardot.
O melhor dos sonhos
É sempre um grande pesadelo
Quando imaginamos que são
reais
Os momentos mais loucos dos
beijos:
Despertar sem o ardor da
boca vermelha da Brigitte Bardot.
Cientistas loucos
Escritores de utopias e
distopias
Clamo do alto dos meus mais
sinceros desejos
Inventem logo a máquina de
viajar no tempo
Quero voltar aos braços de Juliette
E, velho
ridículo:
Rever urgentemente os pés desnudos
da Brigitte Bardot.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Os Estatutos do Homem (Thiago de Mello)

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
(Thiago de Mello)
Santiago do Chile, abril de 1964
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
(Thiago de Mello)
Santiago do Chile, abril de 1964
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Nós que aqui estamos por vós esperamos, um filme de Marcelo Masagão
Notícia recebida por e-mail.
Leitura cinematográfica da obra Era dos Extremos, do historiador britânico Eric Hobsbawm, a produção mostra, através da montagem das imagens produzidas no século XX e da música composta por Wim Mertens, o período de contrastes entre um mundo que se envolve em dois grandes conflitos internacionais, a banalização da violência, o desenvolvimento tecnológico, a esperança e a loucura das pessoas.
O título do filme vem do letreiro disposto em um cemitério localizado na cidade de Paraibuna, no interior do Estado de São Paulo, onde se lê a mesma frase.
Foi premiado no Festival de Gramado em 1999 por sua montagem e no Festival do Recife como melhor filme, melhor roteiro e melhor montagem. Sua produção custou cerca de 140 mil reais, sendo 80 mil direcionado somente para o pagamento de direitos autorais de imagens e fragmentos de vídeos.
Vale a pena ver este filme em silêncio, sem interrupções, ele leva uma reflexão sobre nossa inserção na história e sobre a nossa condição efêmera, revelando que por trás da transformação do processo histórico a nossa própria história pessoal é transformado e que nossos ancestrais silenciosamente nos aguardam, como testemunhos daquilo que foi e daquilo que será - Fernando Augusto.
(Parte 1 a 8)
Notícia recebida por e-mail.
Leitura cinematográfica da obra Era dos Extremos, do historiador britânico Eric Hobsbawm, a produção mostra, através da montagem das imagens produzidas no século XX e da música composta por Wim Mertens, o período de contrastes entre um mundo que se envolve em dois grandes conflitos internacionais, a banalização da violência, o desenvolvimento tecnológico, a esperança e a loucura das pessoas.
O título do filme vem do letreiro disposto em um cemitério localizado na cidade de Paraibuna, no interior do Estado de São Paulo, onde se lê a mesma frase.
Foi premiado no Festival de Gramado em 1999 por sua montagem e no Festival do Recife como melhor filme, melhor roteiro e melhor montagem. Sua produção custou cerca de 140 mil reais, sendo 80 mil direcionado somente para o pagamento de direitos autorais de imagens e fragmentos de vídeos.
Vale a pena ver este filme em silêncio, sem interrupções, ele leva uma reflexão sobre nossa inserção na história e sobre a nossa condição efêmera, revelando que por trás da transformação do processo histórico a nossa própria história pessoal é transformado e que nossos ancestrais silenciosamente nos aguardam, como testemunhos daquilo que foi e daquilo que será - Fernando Augusto.
(Parte 1 a 8)
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
O último poema, de Manuel Bandeira
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Oración por Marilyn Monroe, de Ernesto Cardenal
![]()
Señor
recibe a esta muchacha conocida en toda la tierra con el nombre de Marilyn Monroe aunque ése no era su verdadero nombre (pero Tú conoces su verdadero nombre, el de la huerfanita violada a los 9 años y la empleadita de tienda que a los 16 se había querido matar) y ahora se presenta ante Ti sin ningún maquillaje sin su Agente de Prensa sin fotógrafos y sin firmar autógrafos sola como un astronauta frente a la noche espacial. Ella soñó cuando niña que estaba desnuda en una iglesia (según cuenta el Time) ante una multitud postrada, con las cabezas en el suelo y tenía que caminar en puntillas para no pisar las cabezas. Tú conoces nuestros sueños mejor que los psiquiatras. Iglesia, casa, cueva, son la seguridad del seno materno pero también más que eso... Las cabezas son los admiradores, es claro (la masa de cabezas en la oscuridad bajo el chorro de luz) Pero el templo no son los estudios de la 20 th Century-Fox. El templo –de mármol y oro- es el templo de su cuerpo en el que está el Hijo del Hombre con un látigo en la mano expulsando a los mercaderes de la 20 th Century-Fox que hicieron de Tu casa de oración una cueva de ladrones. Señor en este mundo contaminado de pecados y radioactividad Tú no culparás tan sólo a una empleadita de tienda. Que como toda empleadita de tienda soñó ser estrella de cine. Y su sueño fue realidad (pero como la realidad del tecnicolor). Ella no hizo sino actuar según el script que le dimos -el de nuestras propias vidas- Y era un script absurdo. Perdónala Señor y perdónanos a nosotros por nuestra 20 th Century Por esta Colosal Super-Producción en que todos hemos trabajado. Ella tenía hambre de amor y le ofrecimos tranquilizantes para la tristeza de no ser santos se le recomendó el Psicoanálisis. Recuerda, Señor su creciente pavor a la cámara y el odio al maquillaje –insistiendo en maquillarse en cada escena- y cómo se fue haciendo mayor el horror y mayor la impuntualidad a los estudios. Como toda empleada de tienda soñó ser estrella de cine. Y su vida fue irreal como un sueño que un psiquiatra interpreta y archiva. Sus romances fueron un beso con los ojos cerrados que cuando se abren los ojos se descubre que fue bajo reflectores ¡y apagan los reflectores! y desmontan las dos paredes del aposento (era un set cinematográfico) mientras el Director se aleja con su libreta porque la escena ya fue tomada. O como un viaje en yate, un beso en Singapur, un baile en Río la recepción en la mansión del Duque y la Duquesa de Windsor vistos en la salita del apartamento miserable. La película terminó sin el beso final. La hallaron muerta en su cama con la mano en el teléfono. Y los detectives no supieron a quién iba a llamar. Fue como alguien que ha marcado el número de la única voz amiga y oye tan sólo la voz de un disco que le dice: WRONG NUMBER. O como alguien que herido por los gangsters alarga la mano a un teléfono desconectado. Señor quienquiera que haya sido el que ella iba a llamar y no llamó (y tal vez no era nadie o era Alguien cuyo número no está en el Directorio de Los Angeles ¡contesta Tú el teléfono!
(Ernesto Cardenal)
De: Oración por Marilyn Monroe y otros poemas |
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