Por Adriano Dias, via Semema
Uma perspectiva inovadora e lírica sobre o fim do mundo foi criada por uma equipe de alunos da escola francesa de vídeo e animação 3D ISART DIGITAL: FILM_FX L3.0.. Um robô solitário buscando alguém com quem compartilhar sua existência parece ser, senão o único, um dos últimos entes vivos do planeta (ao menos em Paris, onde ocorre a história). Criando uma expectativa de clichê no espectador, que está habituado com esse tipo de narrativa piegas, o desenrolar da história surpreende e deixa nos deixa catárticos ao final, fazendo inevitavelmente com que se levantem algumas considerações sobre nossa relação com o mundo e as demais formas de vida distintas da nossa própria. Assista ao vídeo, depois, tecem-se algumas considerações:
Como é comum das obras de qualidade, o discurso tem dois níveis de leitura, ao menos. No superficial ficamos perplexos ao percebermos que a causa da extinção da vida no planeta é causada , ingenuamente (parece), pelo próprio autômato que sofre a solidão. Não fica claro se sua busca é ingênua ou deliberadamente cruel (ou mesmo se há manifestação de sentimentos no robô). Por um lado parece que procura por formas de vida para copiá-las em origamis tamanho real. Sua estratégia de utilizar aviõezinhos de papel (bem romântica) é apenas uma cilada para atrair a cobaia à sua brincadeira que invariavelmente termina na morte da presa. Por outro lado, pode ser que tudo não passe de um ingênuo acidente, proveniente de uma sensação legítima de querer alguém para compartilhar a existência. Os aviões, então, são um pedido de socorro e a relação uma brincadeira que dá errado, que os consome.
A leitura mais profunda sugere a relação do Homem com o meio, outras formas de vida e entre si. Usufruímos das formas de vida no planeta da mesma forma curiosa e cruel, destruidora, com que o androide o faz. Dissecamos ratos, prendemos borboletas, engaiolamos aves, símios, entre outras espécies apenas por deleite frívolo, sem levar em consideração os direitos da outra vida. Assim como o robô faz inclusive com humanos, fazemos com animais, plantas, faríamos com humanos caso não houvesse leis que o proibissem, embora haja indícios de um submundo onde tal fenômeno acontece.
O vídeo infantil não só questiona uma possibilidade de catástrofe por conta do desenvolvimento de uma tecnologia que nos pudesse suplantar e exterminar, sem expressão de sentimentos, como espelha nossa relação com o mundo e a destruição insensível que causamos enquanto raça, ao longo da história.
Hora de revermos o vídeo (e nossos conceitos de relação com a vida alheia, qualquer que seja).
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