Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

No dia de tua ida, poesia de Camila Passatuto


No dia de tua ida.

Entrei no primeiro táxi que balbuciava um espaço bom para o meu ego e despreparo emocional.

Percorri parte da cidade com os batimentos em percussão invertida. Entendi que toda poesia de nada serve em dias de voos baixos. Sabe. Quanto mais abertos os corpos mais barulho se faz com as almas, não é mesmo?

E eu me fechei inteira, aguentei firme as batidas.

Percebi que o tempo é tolo demais para esperas, na infantilidade de acontecer antes de existir, ele mastiga toda a pele frágil de sol e cospe o grito fúnebre do que já foi.

- Eu não teria tempo, você não aguentaria nem mais dez minutos. Os aparelhos nunca dão conta quando o escape é pelo coração, garota.

Os corredores iluminados, as fardas médicas no ritmo de uma ópera caduca. Você. Calma no embate do desencarne, me olhou de canto e gorfou a morte pela boca. Tua última, e cruel, prova de amor.

Entrei no primeiro táxi. Ajeitei meu corpo ao banco, desembrulhei aquele soneto que você gostava, recitei baixinho e prometi que morreria com você, a partir daquele momento, em todos os meus pontos finais.

No dia, sem fim, de tua ida...