No dia de tua ida.
Entrei no primeiro táxi
que balbuciava um espaço bom para o meu ego e despreparo emocional.
Percorri parte da cidade
com os batimentos em percussão invertida. Entendi que toda poesia de nada
serve em dias de voos baixos. Sabe. Quanto mais abertos os corpos mais barulho
se faz com as almas, não é mesmo?
E eu me fechei inteira, aguentei firme as batidas.
Percebi que o tempo é tolo demais para esperas, na infantilidade
de acontecer antes de existir, ele mastiga toda a pele frágil de sol e cospe o
grito fúnebre do que já foi.
- Eu não teria tempo, você não aguentaria nem mais dez minutos. Os
aparelhos nunca dão conta quando o escape é pelo coração, garota.
Os corredores iluminados, as fardas médicas no ritmo de uma ópera
caduca. Você. Calma no embate do desencarne, me olhou de canto e gorfou a morte
pela boca. Tua última, e cruel, prova de amor.
Entrei no primeiro táxi. Ajeitei meu corpo ao banco, desembrulhei
aquele soneto que você gostava, recitei baixinho e prometi que morreria com
você, a partir daquele momento, em todos os meus pontos finais.
No dia, sem fim, de tua ida...