Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

domingo, 30 de junho de 2013

RÉQUIEM PARA MINHA MORTE





Abertura
Ao som de Tchaichovsky e Capiba


Cenário
Bares e poetas amigos (vivos ou ausentes)


   Erickson

Conheci Erickson Luna no Chambaril do Júnior, no dia 30/11/04, sua voz tronituante, seus livros, seus poemas, sua vontade de mudar o mundo, seu socialismo alcoólico, seu amor aos amigos... Tornamo-nos amigos, inevitável!


Conhecia o Poeta de histórias contadas pelo primo Ítalo - que conviveu e produziu músicas com ele quando eram jovens - que um dia, depois de morar 20 anos no Rio de Janeiro, perguntou-me: Erickson ainda é vivo?


Em “Do moço e do bêbado”:


"Bê-a-Bá"

“Bicados num beco de mim

aos baques

bradam Baco e Bakunin”



Espinhara

Era sério o Chico, reservado, sisudo, sempre de chapéu e o eterno amigo Bráulio a tiracolo. Não dava trela, mesmo no Quitanda Vinil - que tive a honra de batizar - eram sempre os dois. Olhávamos, questionávamos, pedíamos, brincávamos, mas aquela amizade era intransponível, que o diga Camila, a musa.


De “Bacantes” escolho o canto IX das “Pluralidades”:

“Tudo era muito fácil: não era uma questão de

um abrir e fechar de olhos, mas de um abrir e

fechar de pernas. Para ela era assim.



Alberto

Ainda na adolescência, conheci Alberto da Cunha Mello, nos livros, é claro. Busquei alguns encontros, mas o cara era difícil. Fui músico, de péssima qualidade, escrevi alguns poemas de caráter duvidosos, e assim a vida prosseguiu. Apenas uma vez ele leu um poema meu em um concurso da Católica, Apocalipse – em quatro cantos, e confessou – confessar é por minha conta – que o meu, era o melhor poema do concurso. Quase não dormi.

Do “Noticiário”:


“Rute,
a mundana do cais”


“Nem tudo e nem todos
Estão perdidos.
Só Rute e o Ocidente
estão perdidos.


Quando o garçom
jogou-lhe uma cadeira
e expulsou-a da terra,


o Time silenciou
e “O Estado de São Paulo”
escolheu divulgar
as últimas olimpíadas.


Um dia
o sol explodirá
e os maus também desaparecerão.
Que consolo, hein, Rute?”



França

Fumamos maconha juntos, em Olinda alta – dizíamos bonconha – eu, o poeta aleijado; França, Europa e Bahia, e o poeta Paper, compositor, filósofo e amigo. Conhecemo-nos no bar de Carlinhos Granja, onde fui levado por Erickson, para onde confluíam as boas almas e os loucos da cidade. Quem vive ainda?


De “Cafuné”, que pescamos em Interpoética:


“À MORTE – por ser imortal,
Ergo um brinde, dizendo:
- À NOSSA VIDA!
e ela responde ofendida:
- NÃO ME ESCAPARÁS!”


Grande Final

Erickson partiu, tive a oportunidade de usufruir de sua cultura, inteligência e amizade. Espinhara, conhecia apenas de vista, queria a sua amizade, mas ele vivia um momento especial em sua depressão cotidiana. Alberto, nunca tive a oportunidade de, no bar do Seu Hélio, tomarmos uma cervejinha ou um uísque, as nove da manhã e conversarmos sobre poesia e a existência. França, nunca vou esquecer do nosso baseado compartilhado e da sua maneira ímpar e doce de reconhecer os amigos.

Já perdi tantos amigos, que tenho hoje um grande desejo, partir antes de vocês:

Granja, Pena Branca, Didi e Maia.


(Itárcio Ferreira)

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