Minha
vida sempre foi muito desregrada, confesso, mas bastante agradável. Tenho
hábitos, que meus familiares e meus colegas de trabalho, sentem repulsas. O porquê?
Uma resposta simples, mas que não é completa, seria creditar toda essa
antipatia como resultado da moral burguesa: tradição, família e propriedade, e
mais blá-blá-blá, deus e mais blá-blá-blá. Tudo o que é simples precisa ser
aperfeiçoado, portanto. Mas, não tenho tempo de ficar pensado o que as pessoas
palestram de mim. Existem prioridades na fila. Tenho muitos amigos. Alguns nem
sabem que o são, mas eu os considero amigos. Minha catedral são os bares; meus
santos os bêbados; minha poesia a liberdade.
Um
dia meu pai, com quem tenho um relacionamento de amigo, mas, não bebe, pode? Visitou-me
em meu apartamento. Entre outras coisas veio trazer notícias de minha mãe, com
quem já não mais falo há tempos. Os motivos? Ora, ora, leitores, os motivos não
lhes interessam. Deixem de bisbilhotar as vidas alheias. E recados dela. Viu-me
em camisa de algodão e comentou sobre a minha linda barriga. Minha barriga não
é qualquer barriga. Levei anos para cinzelá-la. Foi acumulada desde a
adolescência, com muitos sacrifícios. Às vezes minto, leitor! Foram rios de
várias bebidas. Noites mal dormidas. Jogos de carteado, drogas, muito sexo e
comidas calóricas.
Deu-me
mais um conselho, entre tantos que sempre pareço concordar, apenas para não
deixá-lo contrariado. Faça como seu
irmão! Meu irmão mais velho é muito querido por todos, um verdadeiro Gandhi,
ou melhor, uma Madre Teresa de Calcutá. Eca! Não come carne, não joga, não
fuma, não bebe. Apenas se alimenta de comidas saudáveis, faz exercícios, tem
uma religião e é monogâmico. Todas as coisas que mais detesto. Eca!
E continuou: faça como seu irmão que tem uma vida
regrada, que é um exemplo para os que o conhecem, para os filhos, etc., etc.,
etc. Mas eu nunca quis ser um santo, não acredito em céus, infernos ou
purgatórios. Já li Dante, e o adoro, mais não sou um neurótico. Sou um amoral,
um anarquista, vivo a vida pelos prazeres que ela me dá, prazeres físicos,
artísticos, humanísticos e etílicos. Como diria Bandeira: Viva Baco!
Faça como seu irmão que só come comidas
saudáveis e não tem essa sua barriga. Claro que não tem, a
barriga é minha, não empresto, não vendo, não alugo. E preocupado com a minha
saúde, tascou: Você só come porcarias.
Como já estava atrasado para um compromisso com amigos, excepcionalmente, sairíamos
para beber. Sou risível, não? Depois
iria me encontrar com minha mais recente namorada. Linda! Seu nome um poema! E
aí falei, sem nem mesmo sentir, ou senti?
- Come sim, a mulher
dele.
A conversa acabou
por aí. Só para finalizar: minha cunhada tem a cara de cavalo, o caráter de uma
hiena e é falsa como uma zebra verde.
(Itárcio Ferreira)
(Itárcio Ferreira)
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