Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 8 de junho de 2017

SONETO DA TRISTE HERANÇA, poema de Itárcio Ferreira

Andava triste, por nunca conseguir um agente para os meus poemas,
tudo parecia tão fácil na biografia dos poetas mortos.
Peguei o meu copo com uísque, entre as trêmulas mãos dos meus cinquent’anos,
pensei num suicídio ou num bolero: melhor um gole.

Busquei refugio nos meus livros, tantos deles desertaram a esta hora da batalha,
mas aqueles que ficaram diante de minha decadência anônima, animaram-me.
Abriu-os, livres como um corpo que dança ou se joga ao infinito espaço,
o tempo, instrumento de nossas alucinações, engana-nos na sua imensidão.

O gelo, o copo, a mão trêmula, a ingestão da substância efêmera,
como efêmera é a nossa existência posta aos cinco sentidos,
animal faminto, o homem, a mulher, a libido, o som, o que é desvairado.

Abro um livro, um poema de Quintana, por que o busco: ingrata solidão, uísque barato?
Traças, suores, medos de uma nova ditadura, a falta de água e um novo pré 39, 
sem a Santa Madre URSS, sem os maquis, sem Apolônio de Carvalho.

Itárcio Ferreira