Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 15 de junho de 2017

A SEMANA, poema de Weydson Barros Leal


Devemos amar quando crianças.
Quando verdadeiramente somos
O medo e a solidão, a alegria e o contentamento
Em coisas demasiado simples, como
Parcerias em jogos de cartas, doces, guardados,
A vizinhança em assentos públicos.

Na idade adulta não se deve amar.

Não sabe o amor a idade da razão
Onde em si não cabe com o instinto animalesco da pureza.
Dizemos amar num tempo em que há o punho da
                                                                [sobrevivência,
Mas o amor não distingue a fome, e uma cegueira
Não alimenta o mesmo corpo que o pão corrói.
Amamos por piedade, por chão,
Amamos em agradecimento,
Amamos por pena, por cura, por limites,
Por precisão.
Amamos em detrimento, em culpa e abnegação;
Dizemos amar por paixão
Quando amamos em número,
E ávidos permanecemos escutando moedas e dentes
Em cerimónias e jornais.

Amamos por paz e por guerra,
Amamos por ódio, por reclusão,
Por definhamento e morte.

Somos amantes do companheiro, que é vão
Entre a arte e a solidão dos que só amam.
 Amamos o medo que não nos deixa ficar sós,
E amamos as pessoas absolutamente sós, sós
                                                           [por nós
E que não tenham mais ninguém
A não ser os frutos do nosso conhecimento.
Buscamos amar o futuro e o passado —
Perseguimos o passado— e ambos não existem
Se o amor é onde e quando eternamente: amamos a vida —

A morte é a solidão desenvolvida.

Amamos sempre em 3a. pessoa,
Quando nosso cego propósito é um aniquilamento
Em nome de todas as formas verbais —
Amamos quando somos cegos. —
E as vidas, como os amores e as mortes —
O amor e a morte são próximos
Como o ódio e a paixão —
Sempre acompanhadas de ritos e cerimónias ridículas,
Seguem pelas ruas a distribuir flores
E cartões de seasons.
Amamos quando estamos infinitamente doentes
De uma morte que se recupera — o amor é queda
E levitação.
Sejamos mais novos,
Envelheçamos como quixotes que geram sonhos e ilusões —
 
O amor é isto.
E não saberemos viver outra vida sem morte
Como não se cai sem estar de pé,
Como não se vê o sol sem estar de pé,
Como não se deve dizer como
Acabam os poemas,
Como findam as penas,
Como findam o amor e a semana,
Ou como ambos se renovam.

Weydson Barros Leal