Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Saudação aos que Vão Ficar, poema de Millôr Fernandes

Millor_Fernandes, por Cynthia_Brito

Saudação aos que Vão Ficar

Como será o Brasil 
no ano dois mil? 
As crianças de hoje, 
já velhinhas então, 
lembrarão com saudade 
deste antigo país, 
desta velha cidade? 
Que emoção, que saudade, 
terá a juventude, 
acabada a gravidade? 
Respeitarão os papais 
cheios de mocidade? 
Que diferença haverá 
entre o avô e o neto? 
Que novas relações e enganos 
inventarão entre si 
os seres desumanos? 
Que lei impedirá, 
libertada a molécula 
que o homem, cheio de ardor, 
atravesse paredes, 
buscando seu amor? 
Que lei de tráfego impedirá um inquilino 
- ante o lugar que vence - 
de voar para lugar distante 
na casa que não lhe pertence? 
Haverá mais lágrimas 
ou mais sorrisos? 
Mais loucura ou mais juízo? 
E o que será loucura? E o que será juízo? 
A propriedade, será um roubo? 
O roubo, o que será? 
Poderemos crescer todos bonitos? 
E o belo não passará então a ser feiura? 
Haverá entre os povos uma proibição 
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta? 
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos) 
não farão às ocultas, homens especiais 
que, de repente, 
possam duplicar o próprio tamanho? 
Quem morará no Brasil, 
no ano dois mil? 
Que pensará o imbecil 
no ano dois mil? 
Haverá imbecis? 
Militares ou civis? 
Que restará a sonhar 
para o ano três mil 
ao ano dois mil? 

Millôr Fernandes