Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

terça-feira, 12 de abril de 2016

A poesia de um corpo negro


”Não se nasce mulher, torna-se mulher” 
( Simone Beauvoir)


Meu corpo é uma poesia anunciada cheio de nuâncias e rimas que resignificam sob o olhar da mulher negra. Por isso, não preciso me ver no reflexo dum espelho, mas gostaria que você me enxergasse pela minha própria ótica.

Não quero mais violência nem mudanças bruscas, não me reduza ao seu machismo e nem nos seus porquês. Este corpo negro é o caminho por onde perpassa minha identidade; fala das minhas dores e revela minhas raízes banhada em melanina. Possui uma linha tênue que esconde o meu maior desejo. Desejo de ser enxergada para além do padrão que seus olhos conseguem ver.

A liberdade de me reencontrar em cada pedacinho de mim é maravilhoso, é imensurável, porém, confesso que desconstruir isso tudo não está sendo nada fácil. Então não me queira como uma carne barata e tampouco me censure pela minha coragem, apenas se esforce a apreciar a Deusa desenhou. Respeite estes traços negros, respeite esse tabu que está sendo quebrado em mim.

Não me silencie. Não me tire o direito que Dandara dos Palmares, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Simone Beauvoir e tantas outras mulheres me ajudaram e continuam me ajudando conquistar.

Entenda que a história continua e que luta ainda não acabou. Entenda que isto aqui é meu, propriedade minha. Somente quando eu quiser deverá ser tocado. No dia que conseguir me enxergar sem esse sexismo e sem entrelinhas, com certeza compreenderá a poesia de um corpo negro.