”Não se nasce mulher, torna-se mulher”
( Simone Beauvoir)
Meu corpo é uma poesia anunciada cheio de nuâncias e rimas que
resignificam sob o olhar da mulher negra. Por isso, não preciso me ver no
reflexo dum espelho, mas gostaria que você me enxergasse pela minha própria
ótica.
Não quero mais violência nem mudanças bruscas, não me reduza ao seu
machismo e nem nos seus porquês. Este corpo negro é o caminho por onde
perpassa minha identidade; fala das minhas dores e revela minhas raízes banhada
em melanina. Possui uma linha tênue que esconde o meu maior desejo. Desejo de
ser enxergada para além do padrão que seus olhos conseguem ver.
A liberdade de me reencontrar em cada pedacinho de mim é maravilhoso, é
imensurável, porém, confesso que desconstruir isso tudo não está sendo nada
fácil. Então não me queira como uma carne barata e tampouco me censure pela
minha coragem, apenas se esforce a apreciar a Deusa desenhou. Respeite estes
traços negros, respeite esse tabu que está sendo quebrado em mim.
Não me silencie. Não me tire o direito que Dandara dos Palmares,
Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Simone Beauvoir e tantas outras mulheres me
ajudaram e continuam me ajudando conquistar.
Entenda que a história continua e que luta ainda não acabou. Entenda que
isto aqui é meu, propriedade minha. Somente quando eu quiser deverá ser tocado.
No dia que conseguir me enxergar sem esse sexismo e sem entrelinhas, com
certeza compreenderá a poesia de um corpo negro.