Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sábado, 2 de abril de 2016

O poeta Carlos Maia de mãos dadas com Drummond


MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer,
a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. 

O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.


Nestes tempos de culto ao ego (facebook e instagram), de materialismo a toda prova, parece que palavras como solidariedade, compaixão, empatia, afeto e perdão perderam o sentido, ou não fazem parte da grande maioria dos habitantes do planeta Terra.

Vivemos num mundo árido. Carente de tudo que se chama vida. O homem não tem mais tempo para o amigo. Eu cheguei a ver num restaurante numa mesa com 6 pessoas todas teclando no whatsapp.

Eu tinha um amigo na adolescência, era o meu melhor amigo. Não me esqueço nunca uma noite perto ano novo de 79/80, nós estávamos sentados em folhas de coqueiros contemplando as estrelas em Calhetas, e começamos a falar do infinito que estava ali, bem pertinho da gente. Do sentido da vida, de nos despojarmos de tudo e seguir uma vida mais plena, mais em contato com a natureza.

Esse meu amigo era poeta. Anos mais tarde ele me disse que tinha matado o poeta que existia dentro dele. Acho que foi a pior coisa que ele fez na vida. Hoje ele não atende mais os meus telefonemas. E recentemente eu matei esse amigo dentro de mim.

Acho que temos que ter dignidade. A amizade é uma via de mão dupla. Insisti durante muito tempo nessa amizade, mas ela só existia da minha parte.

Acho interessante a mudança que ocorre em nós ao longo da vida e não percebemos. Pude sentir isso com o filme "Coração de Cristal", de Herzog, que quando o vi pela primeira vez aos 19 anos era fantástico. Quando o revi com 47, procurei aquele encanto todo e não achei. O filme era o mesmo, eu é que havia mudado.

Como dizia Heráclito: "Não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes. Afinal, as águas que correm no leito do rio nunca são as mesmas, nem nós somos os mesmos."

Hoje quase ninguém tem mais saco pra ler um texto longo. Eu entrei no Twitter por insistência de um amigo meu, mas nem abro. Sai do face já tem alguns meses, não suportei a egolatria dominante. Faço questão de não ter whatsapp.

Ainda me encanto com as belezas da natureza, e isso me dá um certo consolo, pois mostra que a sensibilidade ainda é uma coisa muito importante dentro de mim. Me encanto com pequenas coisas, como os olhos de um bebê, o sorriso de uma criança. Um ipê todo florido. O canto do sabiá. O sol nascendo no mar. A lua que não para de me inspirar. Essa cidade que eu amo tanto.

Dentre todas as coisas que eu me encanto a maior de todas é sentir a presença do Criador, ah isso é melhor do que a própria vida!

Amigos vem, amigos vão. É necessário aceitar as mudanças. Não podemos viver do passado.

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