Vi o anúncio. Foi uma grande tentação. Tremi. Olhei para trás.
Minha esposa estava na sala. Novela com certeza. Certeza? Meu casamento já
durava mais de dez anos. Somos mais amigos que amantes. Ou melhor, amigos,
apenas. Mais cúmplices que marido e mulher. O encanto foi-se sem que
percebêssemos. Minha barriga cresceu. A bunda dela murchou. Não há tesão que
resista ao tempo. A rotina.
Todos os anúncios são tentadores. O consumo vicia. Como o açúcar.
A internet. A televisão. Que o digam os seus templos. Sempre lotados. Os
shoppings. Que detesto! Meus vícios são livros. Bebidas. À noite, vinho. Na
praia, sob o sol, cerveja. Pode ser ao contrário, também. Mas as mulheres têm o
seu espaço em minha vida. Ou tinham. Em minha imaginação. Em meus sonhos e
fantasias. Obrigado, Deus, pelo viagra. Obrigado, pelo meu ateísmo.
O anúncio era tentador. Sigilo total. Como naquela música: “Sigilo
total / sexo total / amante profissional.” O anúncio era melhor do que a
música, com certeza. Como fui me lembrar desta porcaria. Ainda bem que hoje
temos Anita. Gostosa! Vanessa popozuda. Gostosa! E não aquele gordinho sem
camisa, cantado, "sexo total".
O casamento é a pior droga do mundo. Por que é liberado? E não a
maconha? Acaba o amor. Destrói o sexo. Mas ficamos presos a ele. Não é
fidelidade, sei. Mas, solidariedade. Será? Ou não? Só sei que nada sei, dizia o
Zico. Concordo com ele. Por que não proíbem o casamento? E as cervejas da
Ambev? Duas drogas!
Já paguei por sexo, não nego. Tive que tirar dinheiro da poupança.
Estava juntando para algo grandioso. Ou uma emergência. Esse planos de saúde,
só deus. Ou o Cunha? O que de grandioso já aconteceu na minha vida? Nada. Nem
vai acontecer. Já estou beirando os sessenta. Por isso tirei o dinheiro da
poupança. Era meu. Nem foi, assim, tão legal. Não foi O Gozo. Estava nervoso,
feito adolescente. Um velho, babaca. Aposto que foi isto que pensou a garota.
Ele sorria. Zombando, claro. Mas o gostoso não é só o sexo. Este pensamento me
trazia certo conforto. Eu não era tão ridículo, então. A prenda maior: a
conquista, fica sem sabor. O anúncio prometia isto: conquiste. Conquiste uma
amante. Tenha uma aventura. “A vida é curta. Curta um caso!”
Eu precisava de um caso. Havia ainda dinheiro na conta de
poupança. Alguém que me fizesse sonhar. Suar. Tremer. Esperar, ansiosamente por
um encontro. Minha vidinha de funcionário público é um fardo. Passo mais tempo
na internet do que tomando cafezinho. Cansa representar um servidor exemplar.
Um pai exemplar. Um marido exemplar. Um cidadão de bem. Seja lá o que isto
signifique. Mas, sempre leio na Veja. Eu estava prestar a explodir.
Lembrei-me de Visioneers. Quem me dera, de fato, explodir. Jogar
tudo pelos ares. Vida medíocre. Ainda bem que existe o viagra.
O anúncio seria
minha salvação? Deus, onde estás que não respondes?. Lembrei-me, deus não fala
com os ateus. Ainda bem que existe a internet. E o viagra. E um dinheirinho na
conta de poupança. Da Caixa, vem!
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Rabiscos produzidos após a leitura do artigo Bordel
Virtual, de Frei Betto.
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