Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 18 de junho de 2015

NU, poema de Manuel Bandeira

(“La maja vestida”; “La maja desnuda”. Obras de Goya).

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.
 
(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.
 
Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.
 
Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.
 
Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos –
 
Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!
 
Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.
 
Então, dentro deles,
Boio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.
 
Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu’alma
Nua, nua, nua...

(Manuel Bandeira)

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