"Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação." (Mário Quintana)
Aos Mestres, com carinho!

Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quinta-feira, 29 de junho de 2017
O Parlamento das aves, poema de Geoffrey Chaucer
A
vida é tão breve,
a arte tão demorada de aprender,
o esforço tão
árduo,
a conquista tão fugaz,
a alegria temerosa se esvai tão
rapidamente…
Com isso refiro-me ao Amor,
que com sua impressionante
faina
assola tão gravemente
minha alma que,
quando penso nisso,
sequer sei se estou
desperto ou a dormir.
Geoffrey
Chaucer
quarta-feira, 28 de junho de 2017
ESCADARIA DE ODESSA, poema de João Francisco Lima Santos
A justiça nega
que o pão
seja dividido como se reza...
que o pão
seja dividido como se reza...
nem liga
que há fome e sede
e a vida tem pressa...
que há fome e sede
e a vida tem pressa...
ai de quem
sonha
com o pão
dividido na mesa...
com o pão
dividido na mesa...
e vai ao
protesto
movido
pela ira sagrada
como profeta de um tempo...
movido
pela ira sagrada
como profeta de um tempo...
pois o poder
que ri desse sonho à beça
que ri desse sonho à beça
tem um plano
aberto:
refazer a cena
da escadaria de Odessa...
refazer a cena
da escadaria de Odessa...
João Francisco
Lima Santos
Saudação aos que Vão Ficar, poema de Millôr Fernandes
Millor_Fernandes, por Cynthia_Brito
Saudação aos que Vão Ficar
Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem, cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas
ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura? E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil
ao ano dois mil?
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem, cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas
ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura? E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil
ao ano dois mil?
Millôr Fernandes
terça-feira, 27 de junho de 2017
A CATIVA, poema de Luiz Gama
Como era linda, meu Deus!
Não tinha da neve a cor,
Mas no moreno semblante
Brilhavam raios de amor.
Ledo o rosto, o mais formoso
De trigueira coralina,
De Anjo a boca, os lábios breves
Cor de pálida cravina.
Em carmim rubro esgastados
Tinha os dentes cristalinos;
Doce a voz, qual nunca ouviram
Dúlios bardos matutinos.
Seus ingênuos pensamentos
São de amor juras constantes;
Entre as nuvens das pestanas
Tinha dois astros brilhantes.
As madeixas crespas, negras,
Sobre o seio lhe pendiam,
Onde os castos pomos de ouro
Amorosos se escondiam.
Tinha o colo acetinado
— Era o corpo uma pintura —
E no peito palpitante
Um sacrário de ternura.
Límpida alma — flor singela
Pelas brisas embalada,
Ao dormir d'alvas estrelas,
Ao nascer da madrugada.
Quis beijar-lhe as mãos divinas,
Afastou-mas — não consente;
A seus pés de rojo pus-me,
— Tanto pode o amor ardente!
Não te afastes, lhe suplico,
És do meu peito rainha;
Não te afastes, neste peito
Tens um trono, mulatinha!...
Vi-lhe as pálpebras tremerem,
Como treme a flor louçã
Embalando as níveas gotas
Dos orvalhos da manhã.
Qual na rama enlanguescida
Pudibunda sensitiva,
Suspirando ela murmura:
Ai, senhor, eu sou cativa!...
Deu-me as costas, foi-se embora
Qual da tarde ao arrebol
Foge a sombra de uma nuvem
Ao cair a luz do sol.
Não tinha da neve a cor,
Mas no moreno semblante
Brilhavam raios de amor.
Ledo o rosto, o mais formoso
De trigueira coralina,
De Anjo a boca, os lábios breves
Cor de pálida cravina.
Em carmim rubro esgastados
Tinha os dentes cristalinos;
Doce a voz, qual nunca ouviram
Dúlios bardos matutinos.
Seus ingênuos pensamentos
São de amor juras constantes;
Entre as nuvens das pestanas
Tinha dois astros brilhantes.
As madeixas crespas, negras,
Sobre o seio lhe pendiam,
Onde os castos pomos de ouro
Amorosos se escondiam.
Tinha o colo acetinado
— Era o corpo uma pintura —
E no peito palpitante
Um sacrário de ternura.
Límpida alma — flor singela
Pelas brisas embalada,
Ao dormir d'alvas estrelas,
Ao nascer da madrugada.
Quis beijar-lhe as mãos divinas,
Afastou-mas — não consente;
A seus pés de rojo pus-me,
— Tanto pode o amor ardente!
Não te afastes, lhe suplico,
És do meu peito rainha;
Não te afastes, neste peito
Tens um trono, mulatinha!...
Vi-lhe as pálpebras tremerem,
Como treme a flor louçã
Embalando as níveas gotas
Dos orvalhos da manhã.
Qual na rama enlanguescida
Pudibunda sensitiva,
Suspirando ela murmura:
Ai, senhor, eu sou cativa!...
Deu-me as costas, foi-se embora
Qual da tarde ao arrebol
Foge a sombra de uma nuvem
Ao cair a luz do sol.
Luiz Gama
Para refletir (88)
Bertrand Russell
"Quando encontrar oposição, mesmo que seja de seu
cônjuge ou de suas crianças, se esforce para superá-la pelo argumento, e não
pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória."
(Bertrand Russell, matemático e filósofo inglês)
segunda-feira, 26 de junho de 2017
Billy Paul - "Me And Mrs. Jones"
Eu e a Sra. Jones
Tem algo acontecendo
Ambos sabemos que é errado
Mas é muito forte
Para terminar agora
Nos encontramos todo os dias
No mesmo café
6: 30 - Eu sei que ela estará lá
Segurando as mãos, fazendo todos os tipos das planos
Quando o jukebox toca nossa canção favorita
(refrão)
Eu e Sra. , Sra. Jones, Sra. Jones, Sra. Jones
Tem algo acontecendo
Ambos sabemos que é errado
Mas é muito forte
Para terminar agora
Nós precisamos ser mais cuidadosos
Para que não tenhamos esperanças demais
Porque ela tem suas próprias obrigações
e eu também
(refrão)
Eu e Sra. , Sra. Jones, Sra. Jones, Sra. Jones
Tem algo acontecendo
Ambos sabemos que é errado
Mas é muito forte
Para terminar agora
Bem, está na hora de nós irmos
E machuca tanto, machuca tanto por dentro
Agora ela vai seguir seu caminho
E eu seguirei o meu
Mas amanhã nos encontraremos no mesmo lugar
Na mesma hora
(refrão)
Eu e Sra. Jones, Sra. Jones, Sra. Jones
Tem algo acontecendo
Nós precisamos ser mais cuidadosos
Para que não tenhamos esperanças demais
Eu quero te encontrar
E conversar com você
No mesmo lugar
No mesmo café
Na mesma hora
E segurar as mãos como sempre
Vamos levar isso adiante, adiante
Nós sabemos, eles sabem, você e eu sabemos
Que é errado
Mas fizemos isso ficar forte
Temos que deixá-los saber agora
Que há algo acontecendo
Algo acontecendo...
(Tradução Ao Pé da Pintangueira)
domingo, 25 de junho de 2017
Nova teoria do tempo indica que o presente e o futuro existem simultaneamente
Via Ótimundo
Por Elizabeth A. K.
Eis um belo assunto para uma amigável discussão:
De acordo com uma nova teoria controversa, tudo
ao nosso redor está intricadamente planejado, e o destino de cada um já
foi decidido. A nova teoria sugere que o tempo não passa e tudo é sempre
presente. Na verdade, o tempo não é linear como pensamos, e tudo ao nosso redor
é sempre presente.
O pesquisador indica que o tempo deveria ser
considerado com uma dimensão de espaço-tempo, como afirma a teoria da
relatividade – assim ele não passa por nós, porque o espaço-tempo também não.
Ao invés disso, o tempo é parte de um grande tecido uniforme do Universo,
e não algo que se move dentro dele. De acordo com um cientista, tudo que
aconteceu, e tudo que irá acontecer, está de fato ocorrendo no mesmo momento,
pois o tempo está posicionado no espaço.
A nova teoria proposta pelo Dr. Bradford Skow, um
professor de filosofia associado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT), indica que se fôssemos olhar para baixo no Universo, realmente
observaríamos o tempo e eventos se espalhando em todas as direções.
Assim, o que isto realmente significa? Bem,
isto sugere que o tempo tal como o conhecemos é incorreto; em outras palavras,
ele não é linear como pensamos. De fato, tudo ao nosso redor é sempre presente.
A nova
teoria está detalhada no livro do Dr. Skow, “Objective Beginning”,
onde ele escreve:
"Quando você pergunta às pessoas, ‘diga-me sobre a passagem do tempo’, eles geralmente fazem uma metáfora. Eles dizem que o tempo flui como um rio, ou que nos movemos através do tempo como um navio navega no mar."
"Eu não acreditaria nisso, a não ser que eu visse
um bom argumento quanto a esse respeito."
No livro “Objective Beginning”
Skow almeja convencer os leitores que as coisas não poderiam ser diferentes.
E para fazer isso, ele despende muito de seu livro considerando as ideias
que competem sobre o tempo – aquelas que presumem que o tempo passa ou move por
nós de alguma forma. Ele diz:
"Eu estava interessado em ver que tipo de visão do
Universo você teria se tomasse estas metáforas sobre a passagem do tempo de
forma muito, muito séria."
O Dr. Skow acredita no assim chamado ‘Universo
bloco’ – uma teoria a qual declara que o passado, presente e futuro existem
simultaneamente. Em outras palavras, isto significa que uma vez que um evento
ocorreu, ele continua existindo em algum lugar do espaço-tempo.
A nova e controversa teoria é apoiada pela
teoria da relatividade de Albert Einstein, a qual indica que o espaço e o tempo
são de fato partes de uma estrutura quadridimensional intricada, onde tudo que
ocorreu tem suas próprias coordenadas no espaço-tempo.
O Dr. Skow ainda detalha:
"A teoria do Universo bloco diz que você está
espalhado no tempo; algo como a forma com que você está espalhado no espaço.
Não estamos localizados num tempo único."
Ele concorda que embora as coisas mudem e vemos o
tempo como se ele estivesse passando, estamos numa ‘condição dispersa’ e que
diferentes partes do tempo podem ser pontilhadas ao redor de um Universo
infinito.
Deu para entender?
Via Ancient
code
sábado, 24 de junho de 2017
O ESPELHO DA ENTRADA, poema de Konstantinos Kaváfis
À
entrada da mansão
havia um grande espelho muito antigo,
comprado pelo menos há mais de oitenta anos.
Um rapaz belíssimo, empregado de alfaiate
(e nos domingos atleta diletante)
estava ali com um pacote.
Deu-o a alguém da casa, que o levou para dentro
com o recibo. O empregado do alfaiate
ficou sozinho, à espera.
Acercou-se do espelho e mirou-se
para ajeitar a gravata. Após cinco minutos,
trouxeram-lhe o recibo e ele se foi.
Mas o antigo espelho, que vira e revira
nos seus longos anos de existência
coisas e rostos aos milhares;
mas o antigo espelho agora se alegrava
e exultava de haver mostrado sobre si
por um instante a beleza culminante.
havia um grande espelho muito antigo,
comprado pelo menos há mais de oitenta anos.
Um rapaz belíssimo, empregado de alfaiate
(e nos domingos atleta diletante)
estava ali com um pacote.
Deu-o a alguém da casa, que o levou para dentro
com o recibo. O empregado do alfaiate
ficou sozinho, à espera.
Acercou-se do espelho e mirou-se
para ajeitar a gravata. Após cinco minutos,
trouxeram-lhe o recibo e ele se foi.
Mas o antigo espelho, que vira e revira
nos seus longos anos de existência
coisas e rostos aos milhares;
mas o antigo espelho agora se alegrava
e exultava de haver mostrado sobre si
por um instante a beleza culminante.
Konstantinos
Kaváfis
sexta-feira, 23 de junho de 2017
O Meteoro, poema de Jacques Prévert
Pelas
grades do bloco penitenciário
uma laranja
passa como um raio
e cai como uma pedra
dentro do sanitário
E o prisioneiro
todo lambuzado de merda
resplandece
todo iluminado de alegria
Ela não me esqueceu
Ela pensa sempre em mim ainda.
uma laranja
passa como um raio
e cai como uma pedra
dentro do sanitário
E o prisioneiro
todo lambuzado de merda
resplandece
todo iluminado de alegria
Ela não me esqueceu
Ela pensa sempre em mim ainda.
Jacques
Prévert
quinta-feira, 22 de junho de 2017
Sobre um Poema, poesia de Herberto Helder
Um
poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora
existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E
já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
-
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
quarta-feira, 21 de junho de 2017
A GAIVOTA MORTA, poema de Ângelo Monteiro
Não morrerás jamais
minha gaivota
suprema ave do mar, pobre princesa
estás na alma do poeta presa
enquanto a alma do poeta é morta
suprema ave do mar, pobre princesa
estás na alma do poeta presa
enquanto a alma do poeta é morta
Suprema alma do poeta
viva
suprema alma da gaivota morta
com a tua morte a vida fez-se altiva,
com a minha vida encontro a mesma porta.
suprema alma da gaivota morta
com a tua morte a vida fez-se altiva,
com a minha vida encontro a mesma porta.
Negra ave do céu,
cativa e eterna,
tu pairas sobre o mar depois de morta
eu pairo nesta vida que se inferna.
tu pairas sobre o mar depois de morta
eu pairo nesta vida que se inferna.
Negra gaivota morta,
vida minha.
Tuas asas perdi em em hora torta
na terra te ganhei como rainha.
Tuas asas perdi em em hora torta
na terra te ganhei como rainha.
Ângelo Monteiro
Grandes escritores & maconha (7)
(Nietzsche: óleo sobre tela de Edvard Munch, 1906)
“Quando a gente quer se livrar de uma pressão insuportável o haxixe é necessário.”
terça-feira, 20 de junho de 2017
PROBLEMA NA FAMÍLIA, poema de Geraldino Brasil
A
família ia bem,
mas
o filho mais novo.
A
família ia bem,
quebra
a casca do ovo.
A
família ia bem,
vê
a rua, olha o povo.
Um
problema surgiu,
um
poeta na família.
Geraldino Brasil
Para refletir (87)
Karl Marx e Friederich Engels
("Manifesto Comunista" de Karl Marx e Friederich Engels)
segunda-feira, 19 de junho de 2017
ENVOI, poema de Ezra Pound
Vai,
livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz
a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz
a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.
Ezra Pound
Tradução
de Augusto
de Campos
sábado, 17 de junho de 2017
Eterna Mágoa, poema de Augusto dos Anjos
O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resisitir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resisitir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!
Augusto dos Anjos
sexta-feira, 16 de junho de 2017
VOO, poema de Itárcio Ferreira
Voo sempre em direção
a ela,
tentando tocar com
minhas
mãos
a mão desta arte:
a Poesia.
Mas ela dá voos
rasantes,
Enquanto eu mal consigo
me pôr sobre as pernas:
pesa
a força da idade
e da poliomielite.
Mas o que mais pesa
mesmo,
de um peso descomunal,
titânico,
é
o peso da incerteza:
o destino final.
o destino final.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
A SEMANA, poema de Weydson Barros Leal
Devemos amar quando crianças.
Quando verdadeiramente somos
O medo e a solidão, a alegria e o contentamento
Em coisas demasiado simples, como
Parcerias em jogos de cartas, doces, guardados,
A vizinhança em assentos públicos.
Na idade adulta não se deve amar.
Não sabe o amor a idade da razão
Onde em si não cabe com o instinto animalesco da
pureza.
Dizemos amar num tempo em que há o punho da
[sobrevivência,
[sobrevivência,
Mas o amor não distingue a fome, e uma cegueira
Não alimenta o mesmo corpo que o pão corrói.
Amamos por piedade, por chão,
Amamos em agradecimento,
Amamos por pena, por cura, por limites,
Por precisão.
Amamos em detrimento, em culpa e abnegação;
Dizemos amar por paixão
Quando amamos em número,
E ávidos permanecemos escutando moedas e dentes
Em cerimónias e jornais.
Amamos por paz e por guerra,
Amamos por ódio, por reclusão,
Por definhamento e morte.
Somos amantes do companheiro, que é vão
Entre a arte e a solidão dos que só amam.
Amamos o medo que não nos deixa ficar sós,
Amamos o medo que não nos deixa ficar sós,
E amamos as pessoas absolutamente sós, sós
[por nós
[por nós
E que não tenham mais ninguém
A não ser os frutos do nosso conhecimento.
Buscamos amar o futuro e o passado —
Perseguimos o passado— e ambos não existem
Se o amor é onde e quando eternamente: amamos a
vida —
A morte é a solidão desenvolvida.
Amamos sempre em 3a. pessoa,
Quando nosso cego propósito é um aniquilamento
Em nome de todas as formas verbais —
Amamos quando somos cegos. —
E as vidas, como os amores e as mortes —
O amor e a morte são próximos
Como o ódio e a paixão —
Sempre acompanhadas de ritos e cerimónias ridículas,
Seguem pelas ruas a distribuir flores
E cartões de seasons.
Amamos quando estamos infinitamente doentes
De uma morte que se recupera — o amor é queda
E levitação.
Sejamos mais novos,
Envelheçamos como quixotes que geram sonhos e
ilusões —
O amor é isto.
E não saberemos viver outra vida sem morte
Como não se cai sem estar de pé,
Como não se vê o sol sem estar de pé,
Como não se deve dizer como
Acabam os poemas,
Como findam as penas,
Como findam o amor e a semana,
Ou como ambos se renovam.
Weydson Barros Leal
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