Parece haver um consenso sobre a chatice das feministas. Mas e a chatice das pessoas que querem determinar o que a mulher pode ou não fazer?
Por Aline Valek, no Escritório Feminista
Alguns acham que fãs de futebol são chatos. Outros insistem que chatos são os evangélicos. Outros discordam, acham que chatos são os gays. É particularmente difícil determinar a chatice que define um grupo de pessoas, mas parece haver um consenso sobre as feministas: elas é que são chatas.
É claro que existe um universo de chatice explorado diariamente, mas a chatice das feministas é de uma proporção tão gigantesca que a chatice de pessoas desagradáveis como as que assoviam para você na rua acabam passando em branco.
Tem gente que diz que mulher não pode sair de roupa curta. Tem que se valorizar. Mas sair sem maquiagem não pode, tem que ser feminina. Outros dizem que tem que alisar o cabelo, porque cabelo crespo ou indomável não pode ser bonito. São pessoas que vão olhar para alguém que não se encaixa no padrão e dizer “ih, você precisa se cuidar”. Mas as feministas é que são chatas.
Tem gente que conseguiu determinar o que é uma “mulher de verdade”, em uma listinha cheia de detalhes complicados, como: não pode ser magra demais, mas também não pode ser gostosona, porque isso é vulgar; não pode gostar de beber, nem querer se divertir; tem que ser pra casar, para cuidar do marido quando ele precisar.
Se não se encaixar na listinha com outros quinhentos e oitenta e três itens, só pode ser puta. Essas pessoas também dizem que mulher não pode falar palavrão e nem gostar de sexo como os homens. Mas as feministas é que são chatas.
Tem gente que diz que, se uma mulher não quer transar com um cara que foi legal com ela, ela é uma vaca por deixá-lo na friendzone. Mas tem gente que também diz que se a mulher transa com quem quer, quando quer, ela é uma vadia.
Há quem diga que o sexo desvaloriza a mulher, então ela precisa se “guardar”. Tem gente que acha que buceta se desgasta com o uso. Mas as feministas é que são chatas.
Tem gente que diz que homem não serve pra cozinhar. Que é um completo retardado que não é capaz de fazer sozinho a mais simples das tarefas domésticas sem fazer algo errado ou sem chamar a mulher para ajudar, afinal, ela é que foi feita pra isso.
Essas pessoas também dizem que homem é uma criatura rasa e descontrolada que vai querer enfiar o pau em qualquer mulher que vê pela frente. Tem gente que diz que homem com sensibilidade não pode, porque é “gay”. E ainda tem gente que diz que é o homem quem tem que pagar a conta. Mas as feministas é que são chatas.
Tem gente que adora quando as mulheres tiram fotos de lingerie e publicam na internet, desde que não sejam gordas, velhas, fora do padrão de beleza, ou que usem lingerie bege.
Tirar a roupa para protestar também não pode. Porque há quem diga que as mulheres até podem lutar por seus direitos, mas não podem “lutar demais”.
Essas pessoas é que definem quem pode ficar nua, onde, quando, por qual motivo e para quem elas devem se mostrar. Mas as feministas é que são chatas.
Querem cagar regra sobre o que a mulher pode ou não fazer com seu próprio corpo. Mas as feministas é que são chatas.
Feministas são chatas porque falam de assuntos que ninguém quer ouvir. Porque querem mudar coisas que não interessa aos privilegiados mexer. Porque escrevem e falam sobre assuntos que vão deixar as pessoas desconfortáveis.
Feministas são as malas sem alça que desconstroem as mensagens da mídia e as estruturas da sociedade. Feministas são as chatas que questionam tudo.
Feministas reivindicam que a mulher faça do seu corpo e da sua vida o que bem entender, sem nenhum papel de gênero para limitá-la e nenhum homem para oprimi-la, e por isso são consideradas umas chatas. Tudo porque acreditam na ideia radical que mulheres são seres humanos.
É, as feministas são chatas. E eu estou convicta de que sou uma também.
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Publicado originalmente no blog da autora.
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