Intermédio
Aqueles
meus olhos de mil novecentos e dez
não
viram enterrar os mortos
nem
a feira de cinza de quem chora pela madrugada
nem
o coração que treme encurralado como um cavalo-marinho.
Aqueles
meus olhos de mil novecentos e dez
viram
a parede branca onde mijavam as meninas,
o
focinho do touro, a seta venenosa
e
uma lua incompreensível que iluminava pelos cantos
os
pedaços de limão seco sob o negro duro das garrafas.
Aqueles
meus olhos no pescoço da égua,
no
seio trespassado de Santa Rosa adormecida,
nos
telhados do amor com gemidos e frescas mãos,
em
um jardim onde os gatos comiam as rãs.
Desvão
onde a velha poeira congrega estátuas e musgos.
Caixas
que guardam silêncios de caranguejos devorados.
No
lugar onde o sonho tropeçava com sua realidade.
Ali
meus pequenos olhos.
Não
me perguntem nada. Eu vi que as coisas
quando
buscam seu curso encontram seu vazio.
Há
uma dor de ocos pelo ar sem ninguém
e
nos meus olhos criaturas vestidas. Sem nudez!
Federico
Garcia Lorca
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Apenas comentários inteligentes. Palavras chulas ou xingamentos serão deletados.