Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

OS CAVALOS DE AQUILES, Konstantinos Kaváfis




Quando viram o herói, Pátroclo, morto
– tão moço e tão audaz, tão sem receio –
choraram os cavalos do Peleio
Aquiles. Rebelava-se a imortal
natura deles, vendo a obra mortal.
Cabeças agitadas, crinas bastas,
choravam, a bater no solo os cascos.
Pátroclo extinto (os dois sentiam), sem ânima,
carne cadaverosa, vã, inânime,
sem fôlego vital, inerme, inócua,
de volta finalmente ao Grande Vácuo.

Do pranto dos corcéis imortais, dói-se
Zeus, recordando as bodas de Peleu:
“Teria sido melhor – foi erro meu –
não ter-vos doado, míseros cavalos!
Que faríeis nos tristíssimos convales
da terra, entre os mortais à Moira e à sorte
dados, vós que a velhice poupa, e a morte,
a sofrer fátua pena? Os aranzéis
da humana dor vos prendem.” Os corcéis
porém, de nobilíssima natura,
choram a morte eterna e a desventura.
Konstantinos Kaváfis