Olha-se no espelho e se acha linda. Lembra-se de quando, insegura, nada lhe
agradava, nenhuma roupa, nem maquiagem – roubada da irmã mais velha. Chorava.
Desesperava-se e terminava os seus sonhos de Cinderela cansada, sozinha, no seu
quarto. As únicas testemunhas de seu desespero eram seus livros, as roupas
jogadas pelo chão.
Estava alegre demais. Temia, embora não
acreditasse, que algo, um cometa – e ria -, estragasse aquela noite. Sentia-se
uma debutante. Era uma debutante. Maquiagem perfeita, com a ajuda da mãe e da
irmã – o que só era possível após o seu pai ter saído de casa. O velho era um
coronel. Não sabia como sua mãe aguentara tanto tempo aquele casamento.
Olhava pela janela do seu quarto. Sétimo andar. A
noite estava escuramente bela. Poucas nuvens. Nenhum astro visível. As luzes da
cidade denunciavam vida, mesmo dentro daqueles minúsculos apartamentos onde
crescia verticalmente a solidão. Mas nada tirava o sorriso do seu rosto. A mãe
dava os últimos retoques nas filhas a caminho da noite, da diversão, da paquera.
Abraçam-se as três. Maria chora de alegria.
Marina, sua irmã também. Rúbia, a mãe sorri e tenta esconder sua emoção - lembra-se do ex-marido autoritário, senti-se liberta. Bate
na bunda das filhas. Ri e fala alto: - Vamos, meninas, vamos! Preciso dormir.
Vocês são jovens, divirtam-se. A noite é uma criança. Mas não exagerem.
Qualquer coisa liguem. Não desliguem o celular.
Nunca mais se viram. O
celular dava fora de área...
O mundo é machista,
misógino, assassino. No Brasil há um caso de estupro notificado a cada 11
minutos. Por dia 13 mulheres são assassinadas. Você sabia?