Utilizo
no texto “Ética
e jornalismo” a expressão valores universais e
moralmente superiores em contrapartida aos interesses financeiro-mercadológicos
e ideológicos; e justamente condeno o viés ideológico único, dos donos do
poder, que pode ser o dono do jornal, televisão, rádio, etc., atrelado ao grupo
político dominante, que na época era a direita, representada aqui no Brasil por
FHC, e no Peru, pelo ídolo dos neoliberais, Fujimori.
Atualizando, pois o texto é de 2002, se
assistirmos ao Jornal Nacional, da Rede Globo, identificaremos claramente esse
viés ideológico único, trabalho maravilhoso neste sentido foi realizado
pelo Sakamoto; ao contrário, no Repórter Brasil, da TV Brasil,
esse viés é, sempre, diluído, quando se ouve, sobre determinado e polêmico
assunto, os dois lados da história, representantes das chamadas esquerda e
direita.
Com certeza você situa, e corretamente,
que a moral é produto do tempo, e também do espaço, não é estática, e reflete
entre outros aspectos, as relações de produção e a cultura vigente.
Se optarmos pela idéia de um bem
supremo, estaremos na companhia de Platão; ao contrário, na companhia de
Pascal, nada mal.
Espinoza e Kant, principalmente este,
buscaram princípios que, independente do tempo e da sociedade guiariam o homem
na busca do bem, falharam? Acredito que sim. Na identificação do princípio, não
que este não exista.
Seria o respeito à vida, a integridade
física, por exemplo, valores universais?
Confesso que transito entre as duas
posições - racionalismo e empirismo – apesar da marretada que vem com
Nietzsche. Da mesma forma transito entre o ateísmo – às vezes convicto, como
uma crença -, e o agnosticismo, achando-me incapaz de conceber qualquer verdade
ou indício desta, ou seja, sou – ou somos? – uma metamorfose ambulante.
Quando no meu texto menciono valores
universais e moralmente superiores, faço-o sob a ótica de Nietzsche - uma
contradição? –, valores que façam com que o homem viva em sua plenitude a vida,
valores que não subjuguem o homem ao homem, mais universais do que isto?
A busca da liberdade seria outro valor
universal?
Vivemos num embate histórico, e mais
uma vez não podemos nos abstrair do contexto social, do tempo, do espaço, das
relações de produção, etc., mas situá-lo, para efeito didático e pontual, como
no caso do artigo em questão, é a dicotomia direita-capitalista versus
esquerda-socialista.
O que é ser de esquerda? Para mim é
estar do lado dos excluídos, não apenas como torcida, mas em alguma forma de
luta, nem que seja apenas a voz, o grito. E o que é ser de direita? É estar ao
lado do capital, do lucro, da acumulação irracional, dos que exploram os
excluídos.
Uma saída para identificarmos “valores
universais e moralmente superiores”, talvez, não ao longo de toda a história do
homem, não no aquém nem no além, mas no agora, na dicotomia esquerda-direita,
sem querer ser o dono da verdade ou ter encontrado uma saída mágica para a
questão, é questionar se os valores são excludentes ou includentes.
Se excludentes, são valores da direita-capitalista, portanto, não-universais e
moralmente inferiores, vide ao que conduziram esses valores: a primeira guerra
mundial, a segunda, a exploração cruel da Ásia e da África, só para ficarmos
nos aperitivos.
Se includentes, são valores da esquerda-socialista: se quero comer todo dia, quero não
apenas alimentos para mim ou para o meu grupo, mas para todos.
Isto é perigoso? Sim. Viver é perigoso.
Einstein é perigoso? Quando coopera na produção de uma bomba atômica, sim. Um
avião é perigoso? Quando bombardeia Gaza, sim. E uma faca? Quando assassina
alguém, sim. Dependem do uso que demos a eles, aos valores.
Durante séculos vivemos sob a mentira
de que valores superiores e universais eram os dos países capitalistas ricos.
Houve até a decretação do fim da história. Até que em setembro de 2008, também
para os mais céticos, a coisa ruiu. Vinha ruindo desde sempre, mais se acelerou
com o neoliberalismo – obrigado São Reagan! Obrigado Santa Margareth Thatcher!
-, e com a queda do muro de Berlim e a derrocada da União Soviética.
Portanto, sem medo de errar, apaixonado
pela destruição apaixonada da moral “dos rebanhos” e “dos escravos”, de Nietzsche. Na crença, junto com os defensores do direito natural,
de que existem direitos e valores inalienáveis. Considero como valores
universais e moralmente superiores os valores includentes, aqueles que foram e serão gerados com a implantação de uma verdadeira
sociedade socialista.
(Itárcio
Ferreira)
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