(Botero)
Quem
é este que me olha do espelho
Às
seis da manhã
Com
os olhos ainda encharcados de sono?
De
repente brincava de pião com os amigos de infância,
Agora
vejo, no reflexo do espelho, um homem cansado e incrédulo:
A
face com rugas em que navegam sonhos não realizados.
O
rosto no espelho me olha e pergunta-me quem sou.
Ontem
menino enamorado de minha primeira paixão,
Hoje
avô e pai do meu pai a quem vejo, cada vez mais em mim mesmo.
Espelho,
por que não me avisastes que os anos passavam sem que eu percebesse?
Como?
Me dizes que dia a dia me mostrasses o meu caminho sem volta?
Não
vi, não percebestes? E o espelho sorrindo: “Agora tarde! Agora é tarde!”.
(Itárcio Ferreira)
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