Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira [1910-1989] nasceu no norte de Alagoas, na pequena Passo de
Camaragibe. Quando jovem, morando em Maceió, iniciou a sua vida
profissional como professor de português. Na década de trinta foi
estudar direito em Recife, onde se bacharelou.
Em Recife estudou com quatro
alagoanos que se tornaram amigos de toda a vida: Aloysio Branco, Antonio
de Freitas Cavalcanti, José Moraes da Silva Rocha e Mário Gomes de
Barros Rêgo.
Bacharel em direito, não atuou
como advogado. Dedicou-se ao magistério tanto como professor primário
quanto como professor de literatura portuguesa e francesa. Trabalhou
ainda como funcionário público municipal em várias funções, desde
Oficial de Gabinete do prefeito Edgar de Góes Monteiro até Diretor da
Biblioteca Municipal e, cumulativamente, ocupou a função de diretor do
Departamento de Estatística e Publicidade da prefeitura de Maceió, em
substituição a Rui Palmeira.
Mestre Aurélio fez parte de uma
geração de grandes intelectuais nascidos em Alagoas, como Alberto Passos
Guimarães, Valdemar Cavalcanti, Humberto Bastos, Jorge de Lima, Aloysio
Branco, Carlos Paurilio, Manuel Diegues Júnior, Mário Brandão, Rui
Palmeira, Raul Lima e Théo Brandão.
Acrescente-se a essa relação
Graciliano Ramos, o mais velho entre eles, e os aqui residentes Raquel
de Queiros, José Lins do Rego e Tomás Santa Rosa, cearense e paraibanos,
respectivamente.
A vida de mestre Aurélio em
Maceió e no Rio de Janeiro esteve sempre envolvida com a língua
portuguesa, seja ensinando, ou como revisor de livros e jornais, seja
traduzindo de línguas estrangeiras para o português, ou escrevendo
contos e pesquisando.
O saber popular ajudou o mestre a
criar tantas palavras e verbetes. Vivia anotando tudo, principalmente a
gíria cotidiana do povo. O dicionário Aurélio foi responsável por
democratizar e desmitificar nossa língua, assimilando palavras de uso
coloquial e do cotidiano até então ignoradas pelas pesquisas
lexicográficas.
Em 1975, o Novo Dicionário da
Língua Portuguesa – sua principal obra − foi lançado. A partir desse
momento tornou-se o livro mais vendido no Brasil, fazendo de Aurélio
sinônimo de dicionário.
Mas quem pensa ou pensava que a
vida dessa figura era de clausura, está ou esteve enganado. Um novo
Aurélio sempre deixou a mesa de trabalho para sentar em outra: a da
boemia. Aquele homem aparentemente circunspecto desde jovem, era
conhecido como boêmio na Maceió provinciana das primeiras décadas do
século XX.
Na capital alagoana, muitos amigos da época de juventude se tornaram parceiros nas rodas literárias e/ou de boemia. A maior parte da sua vida foi vivida na cidade do Rio de Janeiro, mas quando vinha passar férias em Alagoas era inevitável entrar na boemia.
Na capital alagoana, muitos amigos da época de juventude se tornaram parceiros nas rodas literárias e/ou de boemia. A maior parte da sua vida foi vivida na cidade do Rio de Janeiro, mas quando vinha passar férias em Alagoas era inevitável entrar na boemia.
Aurélio reunia-se com o
jornalista Arnoldo Jambo, o teatrólogo Bráulio Leite Júnior, o poeta
Carlos Moliterno, o cronista e político Teotônio Vilela, o industrial
Napoleão Moreira, o escritor Emer Vasconcelos, a poeta e atriz Anilda
Leão, dentre outros.
Esses encontros
literorrecreativos ocorriam em residências de amigos ou nos bares, como o
antigo Bar das Ostras, no banho da Bica da Pedra ou apreciando a lagoa
Mundaú, bebericando no Pontal da Barra.
As honrarias e o reconhecimento
em vida aconteceram e foram muitos, mas a maneira simples de viver e de
encarar a vida o imortalizou. As academias − brasileira, alagoana de
Letras e a brasileira de filologia e outras instituições a que pertenceu
− não foram mais importantes do que o reconhecimento popular.
A imorredoura consagração
aconteceu naturalmente fruto do valor de sua obra, sem que houvesse
qualquer campanha de marketing. O reconhecimento popular de um
trabalhador intelectual no Brasil não é tão comum assim. Aurélio
conseguiu.
*Imagem daqui
Marcos Vasconcelos Filho
Marulheiro – viagem através de Aurélio Buarque de Holanda
Maceió -Edufal, 2008, 339 p.
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Postagem programada - blogueiro de férias - 06/03 a 04/04/14.
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