Hoje, 16 de outubro de 2013, almocei com meus filhos e netos. Amanhã meu pai faz setenta e quatro anos. Tanto meus filhos quanto meu pai e minha esposa me dizem para ser mais enérgico, vibrante, melhorar minha alimentação, fazer exercícios, beber menos, me cuidar, pois tenho “apenas” cinquenta anos.
Digo, brincando, que estou adiando tudo para a próxima encarnação.
Digo, brincando, que estou adiando tudo para a próxima encarnação.
Mesmo
sendo ateu, aqueles 1% de medo, remanescente do cristianismo cheio de culpas e pecados, ressuscitam o meu maior desespero: voltar a este ou a outro mundo ou
planeta, para mais uma temporada de dor e sofrimento.
Não
posso sinceramente dizer, sem sofrer, a todos, que estou cansado de viver,
cinquenta anos é demais pra mim, já passei do tempo, do limite da dor, da
rotina, da desesperança.
Não
queria, nem quero todos estes anos, são muitos para mim, muitos sofrimentos; meu suicídio diário é o álcool e o fumo; vários
amigos já morreram, e bem mais novos que eu.
Ídolos:
Poe, Erickson Luna, Paulo Leminski, Fernando Pessoa: quem sou para ousar viver
mais anos que meus ídolos?
Duas
tentativas de suicídio fracassadas mostram a minha capacidade: uma lástima, em
todos os sentidos e em todas as possibilidades da palavra.
Penso,
já vivi cinquenta anos, muito mais do que imaginava na minha adolescência depressiva.
Mas do que o Cristo, em seus mitológicos 33 anos.
Mais
de 45 anos, idade em que morreu meu professor de xadrez, um anônimo! Mas, para mim, um Mestre! Um
infarto, belo e lindo como o nascer, o levou deste inferno. Sou feliz por ele.
Por
que mereço esse "prêmio"? Passar dos cinquetanos? Ou será pesadelo? Sim, com
certeza, é pesadelo.
Penso
na fome, nas guerras, na dor, na tristeza, na África, novamente fatiada entre
os velhos capitalistas, França, Inglaterra, Alemanha, EUA; penso na guerra do Mali;
na guerra do Congo; nenhuma linha na imprensa tradicional, afinal, lá só os
negros morrem e manchete é para os brancos, bonitos e mal cheirosos, apesar de
todos os perfumes enjoativos fabricados na decadente França.
Não
posso dizer aos meus filhos que já não quero viver, não posso. Não quero que
saibam que sou um suicida.
Que
exemplo serei para eles? Um cara fraco, que desiste no meio do caminho...
Mas se há alguém, ou algo, que possa ler a minha mente, a Matrix ou
o que fez o escroto programador, saberá que viver cinquenta anos nesta merda de
planeta, torna qualquer um louco; louco pela morte, pelo esquecimento, pelo não
existir.
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