Meu primeiro desejo é
estar vivo (1) em 2020, senão os outros desejos se tornariam inócuos, uma
obviedade. Fosse está lista feita quando eu tinha meus vinte ou trinta anos,
não seriam 20 coisas, mas, 40 coisas. Hoje, quase perto dos sessenta, meus
desejos arrefeceram junto com a decadência física.
Ser ator (2) ou
roqueiro (3) se tornam mais difíceis quando você não colocou em prática, desde
a adolescência, o exercício das técnicas e dos talentos para tais artes. Claro
que ainda tenho sonhos, hoje são pequenos, ontem eram imensos.
O desejo de viver
numa sociedade mais justa (4), socialista, este nunca morreu, continua mais
forte e firme do que nunca. Os desejos do ego é que foram diminuindo, sumindo.
Conhecer Paris (5), morar numa casa a beira mar (6), criar um monte de
cachorros (7), são coisas que vão ficando distante e depende de dinheiro que
não tenho sobrando.
Espero que até 2020
meus filhos criem asas (8), pois, com a crise dois estão desempregados.
Em 2020 completo
todos os requisitos para minha aposentadoria (9) o que quero muito, mas, com o
desgoverno golpista, não tenho certeza se terei. Aposentado, posso me dedicar a
ler mais (10), ir à praia com maior frequência (11), beber sem me preocupar com
a ressaca (12), dedicar mais tempo aos meus poemas (13) e, quem sabe, a prosa
(14).
Não quero viver muito
se para isso não puder continuar a me cuidar sozinho (15), bem sei que nenhum
poder tenho sobre essa situação, mas, é um grande desejo. Já falei para os meus
filhos que sou doador de órgãos e que quero ser cremado.
No mais um mundo sem
fome (16) ou guerra (17); um mundo livre do capitalismo (18), o que é sonhar
muito, mas, nos sonhos não devemos impor limites.
Quero ver Sérgio Moro
preso até lá (19), isto é, se a CIA permitir, por seus desmandos e destruição
da nossa economia.
Por fim, conhecer
Cuba (20) de onde sopra um cheiro de rum e de liberdade.
Recife, 2016.