"A
minha alma é um grito.
E toda a minha obra é um comentário
sobre
esse grito."
(Nikos Kazantzakis)
Acordei
chorando
Jorrava de dentro de mim
Toda uma denúncia de tudo
aquilo que sou.
Vagabundo, maluco, mendigo,
moribundo,
anarquista, amante, poeta e sonhador.
Não me
conheço,
Aliás, só por fotografia
Não sou lavoura nem
edifício.
Sou um homem que passou fome
Escarrou sangue
E
foi preso como anarquista.
Também não sei mais sorrir
A
minha pele hoje
É uma tatuagem cheia de escamas.
Até o
meu canário fugiu da garganta
Deixando minha alma de
vidro
Perdida pelos escombros
Útero da solidão.
Meus
trinta anos
O que direi a eles
Quando reinar o eclipse da
despedida
Haverei de doar meus olhos
Para alguém poder te
ver.
Pois quem sabe um dia
Eu, hóspede da utopia
Assustado
com a sombra
Dos meus próprios sonhos
Seja encontrado sem
vida
Sentado num cabaré vazio.