Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cuco em ninho de pardal, poema de Antônio de Campos

Ilustração de Jorge Lopes


Sou doutra linha de montagem,
queixar disso não me queixo -
meu verso é pão quando pão
e em não sendo pão, é queijo.

Nascido em ninho de pardal,
meu cantar é canto de cuco,
meus iguais moram em relógio,
são mecânicos e eu maluco.

Sou igual, mas não idêntico,
me reservo a mim o direito
de não cantar as horas certas:
Eu denuncio este tempo estreito!

Canto que de males me espanto
e me espanto de tantos males
que se também não te espantas
estás morto e menos vales.

Antônio de Campos