Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Vênus Anadiômene, poema de Arthur Rimbaud


Como de um verde túmulo em latão o vulto 
De uma mulher, cabelos brunos empastados, 
De uma velha banheira emerge, lento e estulto, 
Com delícias bastante mal dissimulados;

Do colo graxo e gris saltam as omoplatas 
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar; 
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas, 
E o redondo dos rins como a querer voar...

O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor 
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor, 
Particularidades que demandam lupa...

Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VENUS; 
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa 
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.

Arthur Rimbaud

Tradução de Augusto de Campos