"Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação." (Mário Quintana)
Aos Mestres, com carinho!

Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos
sábado, 15 de setembro de 2018
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
Vênus Anadiômene, poema de Arthur Rimbaud
Como de um verde túmulo em latão o
vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com delícias bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...
Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VENUS;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com delícias bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...
Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VENUS;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.
Arthur Rimbaud
Tradução de Augusto de Campos
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
domingo, 9 de setembro de 2018
Conceição Evaristo: a verdadeira imortal, por Dário Neto
Por
Dário Neto
Via
Jornal GGN
Eu
entendo e me solidarizo às manas indignadas com o fato de Conceição
Evaristo não ter sido eleita para a ABL. Contudo, toda vez que penso
nesse museu, me lembro de Antonio Candido por dois motivos: primeiro,
ele não compôs essa trupe. Enquanto Antonio Candido é presente
como um grande pensador, analista e crítico do Brasil, a ABL é
passado e depende exclusivamente da glória alheia - sobretudo a de
Machado de Assis; segundo, em "Literatura e Subdesenvolvimento",
Candido identifica esse movimento de fundar uma Academia aos moldes
dos países europeus uma prática colonialista que até hoje
vergonhosamente assassina a população negra e indígena no Brasil.
Com
isso, Candido nos lembra que se tornar imortal nada tem que ver com
esse colonialismo. Se o grande mestre Antonio Candido não coube na
ABL para vergonha dela mesma, quanto mais Conceição Evaristo, muito
maior que o mestre, pois tendo, semelhante a ele, a argúcia de ler o
mundo, o supera por conseguir transformar esta capacidade analítica
em poesia. Certamente Evaristo é muito grande para a ABL.
Os
Acadêmicos tentaram várias vezes convencer Candido a se candidatar
e ele sempre rejeitou gentilmente. Quando o mestre e amigo de
Candido, Fernando Azevedo faleceu, o acadêmico Chico Barbosa
procurou-o durante o velório para convencê-lo a disputar a cadeira
vaga pela morte de seu mestre, o crítico alegou que não tinha
espírito associativo. Em 1993, a ABL homenageou Candido com o Prêmio
Machado de Assis, evidenciando a intenção de seduzi-lo a compor o
grupo e novamente, ele rejeitou. A grandeza que buscavam para si com
a associação deste grande crítico literário, certamente
alcançariam com Evaristo. E por que não foram atrás dela ao invés
de esperar que ela manifestasse interesse? E por que a rejeitaram
quando poderiam ter laureado a coroa enferrujada dessa Associação?
Pelo simples motivo de ela ser mulher e negra. Assim como aconteceu a
Conceição Evaristo, também essa gente que há séculos se acham
donas da Literatura Brasileira rejeitou a primeira romancista Maria
Firmina de Menezes, a primeira poeta modernista negra Gilka Machado,
rejeitaram Carolina de Jesus e tantas que ainda estamos descobrindo.
Isso só mostra o quanto esta Academia é pequena, muito pequena.
Dário
Neto é
Doutor em Literatura Brasileira pela USP com a tese "A pena do
cronista: a presença das crônicas nos romances machadianos",
Professor Colaborador em Teoria Literária na UNESPAR e autor do
livro de contos Candelabro.
sábado, 8 de setembro de 2018
Para refletir (103)
"Os animais
existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os humanos,
assim como os negros não foram feitos para os brancos nem as mulheres para os
homens." (Alice Walker)
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Saudades demais, poema de Rose Bittencourt
Uma
pureza no cais
Relâmpago
e trompetes
Viro
de perna o cacete
Te
cubro todo de mel
Vem
perto que eu to pedindo
Faz
um sinal e me flerte…
Rose
Bittencourt
terça-feira, 4 de setembro de 2018
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
A LUTA VALE A PENA, poema de Marcelo Mário de Melo
[A Hiran Pereira, homem de teatro e dirigente comunista em Pernambuco,
assassinado e desaparecido nos tempos da ditadura de 1964]
Vale a pena sim
remar contra a maré
pois muitos ainda
não têm pão
nem peixe
e estão unidos
os que atiram
as primeiras pedras.
remar contra a maré
pois muitos ainda
não têm pão
nem peixe
e estão unidos
os que atiram
as primeiras pedras.
Vale a pena sim
seguir a estrada
recuar
na trilha ameaçada
e voltar
pé ante pé
lançando
o sal e a semente.
seguir a estrada
recuar
na trilha ameaçada
e voltar
pé ante pé
lançando
o sal e a semente.
Vale a pena sim.
Enfrentar a intolerância
lutar por liberdade
são coisas
que só fazem bem
em toda idade.
Enfrentar a intolerância
lutar por liberdade
são coisas
que só fazem bem
em toda idade.
Vale a pena sim
vale a pena a nós
vale a pena a vós
vale a pena a mim.
vale a pena a nós
vale a pena a vós
vale a pena a mim.
Vale a pena sim!
Marcelo Mário de Melo
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